Com o diferendo BPI-CaixaBank a marcar a agenda mediática e política, Jaime Gama, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e antigo Presidente da Assembleia da República, defende que é urgente “esfriar um pouco a hiperativade declaratória e inconsequente” e tentar normalizar a relação com Angola.

Na edição desta semana do programa Conversas à Quinta do Observador, o ex-ministro de Soares e de Guterres afirma que é preciso “esfriar esse debate, retomar os canais próprios e pôr a figurar nas negociações adequadas, com os interlocutores adequados, as pessoas mais capazes”. No fundo, normalizar a relação com as autoridades angolanas e relançar as pontes do diálogo — é o que podemos escutar a partir do minuto 27 desta conversa em que também participou Jaime Nogueira Pinto.

Há que silenciar um vasto conjunto de oratória e de declamatória que diariamente intervém sobre questões em que revela não ter um conhecimento profundo”, critica Jaime Gama.

O ex-Presidente da Assembleia da República acredita que “havia e há sempre vantagem de manter um esclarecimento objetivo, substantivo e leal” entre as “duas placas tectónicas” que se vão movendo, Portugal e Angola. Esta compreensão de que há dificuldades comuns e de que os dois países têm vantagens em manter os laços bem estreitos “devia levar a uma intensificação da conversação no plano político, sem tibieza, sem cartas escondidas, para que todos possam tomar as decisões racionais que a situação impõe”.

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O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros não deixa de fazer um reparo à estratégia que tem sido assumida pelas autoridades europeias. “[Bruxelas] não pode querer criar uma União Bancária que assente na destruição de uma parte do seu tecido bancário e numa concentração ditada pelas leis da concorrência que apenas favorecem um dos agentes em detrimento de outros. [Isso provocaria] um desequilíbrio enorme”.

Jaime Nogueira Pinto concorda com Jaime Gama. Além das críticas aos “burocratas de Bruxelas”, o investigador e escritor português lembra ainda que, numa altura em que “cena política está ocupada por toda esta histeria”, as “consequências” podem ser “péssimas” para Portugal. “Estes assuntos não se podem tratar na praça pública aos berros”, avisa Nogueira Pinto.

Nessa linha, critica uma certa “vaga moralista e moralizante” que se tem sentido em relação aos capitais angolanos e em relação ao Estado angolano. Vaga que “não ajuda nada à solução dos problemas”.

Cria um problema de tensão, de afirmação de parte a parte, que não ajuda nada” e que pode trazer “efeitos negativos” para os interesses portugueses e do Estado português”, sublinha Nogueira Pinto.

Pode assistir aqui à versão integral do Conversas à Quinta desta semana:

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