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"Nem estava preparado para ganhar o Estoril Open"

Este artigo tem mais de 5 anos

A primeira coisa que o único português a jogar a final do Estoril Open admitiu ao Observador foi que, mentalmente, não estava no ponto para ganhar. Foi há seis anos que Frederico Gil lá chegou.

Em 2010, ainda no complexo do Jamor, Frederico Gil perdeu a final do Estoril em três sets para o espanhol Albert Montañés, ao fim de pouco mais de duas horas e meia de ténis
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Em 2010, ainda no complexo do Jamor, Frederico Gil perdeu a final do Estoril em três sets para o espanhol Albert Montañés, ao fim de pouco mais de duas horas e meia de ténis

FRANCISCO LEONG/AFP/Getty Images

Em 2010, ainda no complexo do Jamor, Frederico Gil perdeu a final do Estoril em três sets para o espanhol Albert Montañés, ao fim de pouco mais de duas horas e meia de ténis

FRANCISCO LEONG/AFP/Getty Images

Há uns tic-tac que são como a reputação de um relógio suíço. Não falham, são inquebráveis por qualquer martelo, falha de pilhas ou avaria. Não o são por serem irritantes ou teimosos, mas sim pelos efeitos que deixam. A cabeça de um desportista, quando quer, funciona assim. Fá-los pensarem no que e quando não devem. Duvidarem deles próprios, ficarem presos no que deviam ter feito e não fizeram ou em como deviam ter batido a última bola que lhes chegou. Mas pior é pensar no que aí vem e foi isso que Frederico Gil fez quando viu que, na prática, estava perto de ser o primeiro português a conquistar o Estoril Open.

Começou a antever como festejaria o ponto que lhe daria a vitória no torneio. Ir de joelhos ao pó de tijolo, deixar-se cair de costas, desatar aos pulos ou ir a correr para a bancada. Tanto pensou na teoria, que a prática sofreu com isso. Ficou na dúvida, passou a jogar pelo seguro, apenas a atirar para o outro lado da rede as bolas que devia bater para Albert Montañés não lhes conseguir tocar. Mas o português começou a jogar na defensiva, o espanhol percebeu, e o 3-0 a favor de Gil, no terceiro set, acabou com um 7-5 a sorrir para Montañés. “Obrigou-me a ter que atacar e ganhar e comecei a ficar nervoso”, resumiu-nos ao longe, em Hammamet, na Tunísia, onde está nos quartos-de-final do torneio que, aos 31 anos e no 610.º lugar do ranking, apenas o deixará (se receber um convite) estar no torneio de pares do Estoril Open — que arranca este sábado e vai até 1 de maio.

Ainda pensas naquela final?

Penso um bocado. Mas é mais ou menos tranquilo. Encaro-a como um bom resultado que fiz, às vezes gostava de voltar atrás e estar outra vez ali, a servir, com 3-0 no terceiro set, para fechar o encontro. Mas estou bem com isso. Não é uma coisa que mexa assim tanto comigo. Sinceramente, acho que nem estava preparado para ganhar naquela altura.

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Porquê?

Pela fase em que estava. Foi um excelente resultado ter feito a final, mas, primeiro, nunca pensei chegar lá nessa semana. Até estava a jogar bem, mas sem conseguir grandes resultados. Mas o quadro abriu, fui por ali fora e, quando me deparei com a situação em que podia mesmo ganhar o torneio, não estava mentalmente preparado para isso.

Mas foi nisso que pensaste mesmo antes da final, quando estavas no balneário?

Não, não. Só pensei lá dentro, no court. Porque até estive quase a perder em dois sets, quando tive um 6-3 e 5-3 contra, e lembro-me de pensar: “Fogo, ainda não consegui jogar nesta final o que joguei até aqui chegar”. Ou seja, bora lá. Foi a partir desse momento que me comecei a soltar e que ele ficou mais nervoso. O jogo virou completamente. Ganhei 7-6 e cheguei a estar a vencer por 3-0, a servir, no terceiro set.

Foi aí que tudo mudou.

Comecei a pensar: “Vou ganhar o Estoril Open. Fogo, nunca pensei. Como é que vou festejar? Vou cair de joelhos no chão? Vou atirar-me para trás? Vou subir à bancada?” E, de repente, deixei de pensar no jogo e a deixar a cabeça fugir para esses pensamentos. Não me consegui focar mais. Comecei a jogar um bocadinho mais defensivo, à espera do erro. Em vez de procurar o ponto, fui esperando que ele falhasse. Ele apercebeu-se e começou a não falhar, e a não falhar e a não falhar. Obrigou-me a ter que atacar e ganhar e comecei a ficar nervoso.

O barulho nas bancadas, com o público aos berros, a apoiar-te, ajudou ou prejudicou?

É para os dois lados. Depende da maneira como encaras a coisa. A mim, isso sempre me serviu para dar mais e mostrar o que posso jogar. O facto de estarem ali pessoas a puxarem por mim faz-me querer demonstrar o melhor. Mas também pode dar para o “fogo, grande vergonha, o que vão pensar de mim?”. Isto caso não jogues bem. No meu caso, isso puxa-me naturalmente para o lado da superação, de querer mostrar aquilo que valho. Quando jogo em Portugal, ou em estádios grandes, normalmente jogo sempre melhor. Tenho aquele bichinho.

Mas é fácil um tenista ser engolido por esse ambiente?

[Demora uns três segundos até começar a responder] Depende da maneira como se está preparado, ou se encara a coisa. Há jogadores a quem dá para ficarem todos tensos e nervosos e bloqueiam. A outros, dá-lhes para se superarem. Varia muito com a forma como sentes as coisas e te preparas para elas, principalmente a nível mental. Há uma parte que é muito psicológica e depende da maneira como consegues sentir e ver as coisas. Depende também de quem te rodeia: a tua equipa, o teu treinador, o teu psicólogo, etc..

O que achaste o ano passado do novo Estoril Open?

Sinceramente, gostei. Sentes que estás mesmo num clube de ténis, mais parecido com os grandes ATP’s da Europa. No Jamor não sentias tanto isso. Estavas no meio de uma instituição pública, de uma coisa bem maior, era diferente. Gostava mais do facto de ser um torneio misto, com homens e mulheres, mas agora a prova está mais bonita. Mas no estádio também era espetacular.

Achas que se perdeu alguma mística com a mudança?

Não senti muito isso. É a evolução das coisas. Acho que estão a fazer um trabalho no Estoril. A publicidade está melhor e mais bem divulgada. A imagem do evento já está noutro patamar, neste momento. Antes tinha o João Lagos, agora é só com o João Zilhão. Foi uma evolução. Tenho pena que o Lagos esteja de fora, porque ele foi o grande sonhador e organizou durante não sei quantos anos este torneio. Pronto, sei que entre ele e o Zilhão as coisas não estão assim tão bem quanto isso. Mas gosto que o torneio seja no Estoril.

Já sabes se podes lá jogar este ano?

Pois, está preso com este torneio na Tunísia. Hoje [quarta-feira] vou tentar falar com o João Zilhão, só que vejo a minha presença complicada, pelo menos no torneio de singulares. Aqui vou jogar na quinta-feira [21 de abril], caso ganhe jogo na sexta e, se isso acontecer, já não consigo ir jogar o Qualifying do Estoril Open. Só o poderia fazer se me dessem um convite e se perdesse aqui na quinta, viajasse na sexta e jogasse em Portugal no sábado. É muito em cima. Vou sugerir que, se puderem, me deem um wildcard para jogar em pares. Vamos ver. Comecei a formar equipa com um americano e, a partir de agora, também me vou passar a dedicar mais aos pares.

Como é que acontece essa parte dos convites e dos wildcards? Vocês negoceiam?

É tudo por e-mail, mensagem, telefone ou pessoalmente. Se o jogador tiver um manager, ele trata disso com a organização do torneio. Se não tiver, ou o treinador ou o próprio jogador comunicam com quem organiza a prova e fazem-se as negociações. É assim que funciona.

E vais aparecer outra vez a bater a esquerda a uma mão?

Sim, mas também estou a jogar a duas mãos, não jogo sempre só com uma.

Não te custou a mudar a forma como bates a esquerda? Não é normal para um tenista.

Sim, mas em pequenino já batia a uma mão. Já sabia jogar a uma e sempre joguei muito com o meu slice, que é a uma mão. Pronto, hoje é mais uma pancada que faço. Mas hoje bato das duas maneiras. Durante uns meses joguei só a uma, mas percebi que a minha de duas também está lá e foi com ela que cheguei a número 62 do mundo. Não a vou tirar do meu jogo, vou só encaixar a esquerda a uma mão em alguns momentos.

Foi mais difícil mudar o chip na cabeça ou a parte técnica?

É um bocado o chip, mas é mais a parte técnica. Há bolas que não consigo fazer a duas mãos o que faço com uma, e vice-versa. Principalmente nas respostas ao serviço ou em bolas que tenho de ir buscar mais longe. Em outras, quando quero meter mais spin, é mais fácil bater a uma mão. A duas mãos consigo penetrar mais na bola. Por isso tenho variado, porque também depende do adversário e do momento do jogo.

Se tivesses que dividir um tenista em percentagens, qual atribuirias à parte mental?

Sabes, acho que tem de estar tudo interligado. Não te consigo dizer se é 70 ou 60. Se estás com uma boa técnica, mas estás pouco disponível fisicamente, não vais conseguir fazer nada. Tens que encontrar um equilíbrio entre as coisas todas e, consoante o momento, passa a ser mais importante a técnica ou a cabeça. Não te consigo precisar as percentagens, isso era no passado. Sei que tudo tem de estar bem trabalhado e as peças têm de estar bem encaixadas. Tens de ter a cabeça no ponto para te aguentares, mas também tens de ser capaz de, fisicamente, aguentar uma jogada. Se não tiveres técnica acabas por não conseguir colocar a bola onde queres e, com isso, vais-te desgastar muito mais fisicamente. E a cabeça vai atrás.

Mas achas que a cabeça é a parte mais difícil de treinar?

Hmm, não acho. Até acho que a mais complicada é a parte física. Tem é de ter um trabalho diário. A parte da concentração e superação. Todos os dias tento estimular a minha parte mental, para estar habituado ao calor do jogo e da competição. Vou sempre treinar com o bichinho, como se fosse para a competição.

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