Milhares de trabalhadores continuam a entrar todos os dias na central de Chernobyl, na Ucrânia, 30 anos depois do pior acidente nuclear civil da história, para o desmantelamento do local e construção de um novo sarcófago.

“Há 1.500 trabalhadores na central, para o processo de desmantelamento, e mil ou dois mil contratados pelo consórcio internacional que está a construir o novo sarcófago para o reactor quatro acidentado”, de acordo com o departamento de cooperação internacional da central.

Na central, situada a 120 quilómetros a norte da capital ucraniana, Kiev, e junto à fronteira com a Bielorrússia, os trabalhadores garantem o desmantelamento definitivo dos reatores um, dois e três, que continuaram a funcionar depois da catástrofe, entrando progressivamente em suspensão até à paragem definitiva em 2000.

“Em 2015, começou a segunda fase do programa para a paragem total da central e conservação das unidades. Trata-se de garantir o armazenamento seguro do combustível nuclear e todo o material radioativo nos reatores”, explicou.

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A várias centenas de metros do edifício principal, decorre a construção do segundo sarcófago – um grande arco em aço, chumbo e outros materiais – que deverá garantir a não emissão de radiações do reator quatro durante, pelo menos, 100 anos.

O novo sarcófago – 108 metros de altura, 150 de largura e 280 de comprimento – vai substituir o primeiro, um enorme cubo de cimento, que foi terminado cerca de sete meses depois da catástrofe e cuja vida útil, calculada em 30 anos, está a chegar ao fim.

A conclusão do novo sarcófago está prevista para o final do ano, sendo de imediato colocado sobre a antiga proteção do reator quatro.

Um ano mais tarde, o segundo sarcófago vai entrar em funcionamento e, em 2023, deverá estar concluída a destruição do primeiro, uma das tarefas mais delicadas de todo o projeto, já que implica trabalhar no interior do reator.

A 26 de abril de 1986, o reator número quatro da central soviética de Chernobil explodiu durante um teste de segurança.

O acidente, devido a um erro humano e a um defeito de conceção do reator soviético, modelo “RBMK”, desencadeou a maior catástrofe nuclear civil. O balanço das vítimas continua a ser controverso, mas algumas estimativas indicam milhares de mortos, mas apenas 56 mortos como vítimas diretas da catastrófe.

A explosão em Chernobyl lançou para a atmosfera 200 toneladas de material com uma radioatividade equivalente a entre 100 e 500 bombas atómicas como as de Hiroshima (Japão).

Construída na década de 1970, Chernobyl era a maior central soviética, com quatro reactores operacionais e mais dois em construção.

O acidente ocorreu quando os técnicos aproveitaram o encerramento do reator quatro para uma acção de manutenção para experimentar quanto tempo podiam as turbinas abastecer o sistema de refrigeração no caso de a fonte de energia externa ser cortada.

Ao reduzir-se o afluxo de água ao reator, a potência deste multiplicou-se por 120, elevando a temperatura do núcleo a 2.300 graus em poucos segundos, o que provocou a fusão.

Registaram-se duas explosões: A primeira, à 01:23 de 26 de abril, lançou para o ar a cobertura de mil toneladas e grande quantidade de combustível e grafite para fora do edifício do reator. A segunda desencadeou um incêndio que durou nove dias.

A nuvem radioactiva alcançou primeiro a Bielorrússia e continuou em direção à Escandinávia, Europa central (principalmente Áustria e Alemanha) e Reino Unido, entre outros países.

Seis toneladas de dióxido de urânio foram libertadas na atmosfera, além de substâncias como iodo 131, estrôncio e césio 137 (com uma vida média de 30 anos), amerício e o plutónio (com vida média de milhares de anos), mas as partículas de maior dimensão ficaram concentradas num raio de 100 quilómetros em torno da central.

Mais de 350.000 pessoas tiveram de abandonar as suas casas, 116.000 das quais nos dois dias seguintes ao acidente.

Cerca de 600.000 pessoas – mobilizadas entre 1986 e 1989 – trabalharam na “liquidação” da catástrofe sem equipamento, nem meios adequados.

Militares, operários, engenheiros, estudantes universitários, polícias e funcionários públicos extinguiram o incêndio, removeram escombros e construíram o sarcófago de betão que selou o reactor, sete meses após o acidente, o que posteriormente foi fatal para muitos.

Concluída a construção do sarcófago, em novembro de 1986, Chernobyl continuou a produzir energia durante mais 14 anos.

Em outubro de 1991, um incêndio obrigou ao encerramento do reactor número dois, ao passo que o número um foi encerrado em 1996. O fecho do terceiro e último reactor ocorreu a 15 de dezembro de 2000.

O encerramento definitivo da central foi possível após o acordo de dezembro de 1995 com o G7 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo), que contribuíram com mais de sete mil milhões de dólares para o encerramento e programas de assistência, bem como com créditos para a construção de novos reactores no oeste da Ucrânia.