O presidente da Associação Comercial do Porto (ACP) afirmou esta segunda-feira que a ponte aérea Porto-Lisboa, iniciada pela TAP há um mês, causou “enormes prejuízos” à região e visa construir “um novo aeroporto” e uma “nova ponte” na capital.

“O único mercado que a TAP vê no Porto é que pode gerar receita em Lisboa. Para a TAP, o aeroporto do Porto é irrelevante. É uma obrigação descartável. Temos aqui um rato escondido com o rabo de fora: todos percebem que está em causa um novo aeroporto e uma nova travessia em Lisboa”, afirmou Nuno Botelho, em declarações à Lusa.

Um mês depois de a TAP iniciar a ponte aérea Porto-Lisboa e acabar com quatro rotas para destinos europeus a partir do Porto, o responsável da ACP alerta que o aeroporto Francisco Sá Carneiro perdeu “74 voos semanais” da companhia e lamenta que o primeiro-ministro não explique se a empresa é pública ou privada.

“Continuamos a não entender se a TAP afinal é pública ou privada e o primeiro-ministro não explica, não vem a público dizer o que se passa. Percebo que haja assuntos mais relevantes para o país, como decidir se deve haver um cartão de cidadão ou de cidadania”, ironizou o presidente da ACP.

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Botelho acrescenta que “a TAP anunciou a suspensão de quatro rotas europeias” mas o que se verificou foi “a supressão de 74 voos semanais para destinos na Europa, no Brasil e nos Estados Unidos”.

“A supressão foi bem maior do que a anunciada inicialmente”, frisou.

Simultaneamente, avisa o presidente da ACP, “foi feito um reforço de 59 ligações internacionais a partir do aeroporto de Lisboa”.

“Tudo isto estaria muito bem se a TAP fosse, e não sei se é, uma empresa privada. Não compreendo por que é que o Estado português pôs dinheiro nessa empresa. Será que foi para calar os partidos com quem tem coligação no Governo? Será que foi para calar os sindicatos?”, questionou o responsável.

De acordo com Nuno Botelho, na ponte aérea Porto-Lisboa, a TAP tem prestado “um mau serviço, pouco fiável e atrasado”, para além de ser “lesivo para os interesses da região”.

O responsável nota, ainda que “tirando a TAP e a SATA, todas as outras companhias estão a apostar no aeroporto do Porto, e não são só as low-cost”.

Comparando as ligações que a TAP suprimiu a partir do Porto com as que foram criadas por outras companhias, Botelho refere que “a região ficou a perder”.

“Acredito que o mercado se ajuste e reequilibre, mas o efeito imediato é negativo. É quase impossível substituir 74 voos internacionais”, observou.

A 27 de março, a TAP duplicou as ligações aéreas entre Lisboa e o Porto, passando a ter 18 ligações diárias em cada sentido, com partidas de hora a hora.

Este reforço da operação entre Lisboa e o Porto, coincidiu com o fim quatro rotas com destinos europeus, consideradas deficitárias pela companhia: Barcelona, Bruxelas, Milão e Roma a partir do Porto (Gotemburgo, Hannover, Zagreb, Budapeste e Bucareste, a partir de Lisboa).

O fim das rotas a partir do Porto levou o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, a criticar a estratégia da TAP e a admitir “apelar ao boicote da região” à transportadora, acusando-a de ter em curso uma estratégia para “destruir o aeroporto Francisco Sá Carneiro”, no Porto, e construir, em Lisboa, “um novo aeroporto e uma nova ponte”.

Contactada pela Lusa, a Câmara do Porto não quis fazer qualquer comentário de balanço à operação da TAP.