A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), o principal partido da oposição em Moçambique, tentou, na manhã de segunda-feira, ocupar o posto administrativo de Chemba, na província Sofala (centro), informou esta terça-feira o porta-voz da polícia moçambicana. A instabilidade no país mantém-se elevada, com greves e manifestações marcadas para os próximos dias, quando o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa se prepara para uma visita de Estado que se centrará em Maputo.

O Observador sabe que a Presidência não tenciona alterar os planos da viagem, ainda que esteja ciente da crescente tensão política, militar e até da instabilidade provocada pela situação financeira do país. A visita de Estado coincide mesmo com a semana em que o país pode vir a estar paralisado, caso as manifestações que estão a ser convocadas de forma anónima pelas redes sociais tenham adesão. A situação de conflito militar — o líder da Renamo instalou-se na base da Gorogonsa, em 2012, em confronto com a Frelimo — já dura há vários anos, tendo-se agravado em 2014, com ocorrências sobretudo a Norte do país. Mas agora o conflito já está no centro de Moçambique.

“Homens armados da Renamo tentaram ocupar o posto administrativo de Chemba, mas foram imediatamente rechaçados pela polícia e decorrem ações para neutralizar estes indivíduos”, disse o porta-voz do Comando Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Inácio Dina, falando durante a conferência de imprensa de balanço semanal das atividades policiais.

De acordo com moradores locais ouvidos pela Lusa, cinco homens armados assaltaram, na manhã de segunda-feira, a sede de Chiramba, posto administrativo de Chemba, tendo mantido refém o chefe da área. “Eram 7h45 horas [6h45 de Lisboa] quando fortes disparos começaram em frente ao posto administrativo, onde o chefe acabava de entrar uns 15 minutos antes”, disse à Lusa um morador que presenciou o incidente, acrescentando que posteriormente o grupo “capturou professores, enfermeiros e a população para avisar que tomou o controlo da zona”.

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Além de invadir a sede da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder em Moçambique há 40 anos, e retirar a bandeira do partido, segundo o morador, o grupo tomou o controlo do posto policial local, depois de expulsar o único agente que estava de serviço.

O porta-voz da PRM disse esta terça-feira que a situação está controlada pelas autoridades, referindo que “a vida do distrito continua” e a polícia está no terreno para garantir a segurança das comunidades. “A situação está controlada”, reiterou Inácio Dina, acrescentando que, apesar da troca de tiros entre a polícia e os homens armados da Renamo, não houve registo de vítimas mortais nem de feridos.

Moçambique vive uma crise política e militar caracterizada por confrontos entre as forças de defesa e segurança e o braço armado da Renamo e ataques em vários troços das principais estradas do país na região centro atribuídos pelas autoridades ao partido de oposição.

A crise foi desencadeada pela recusa da Renamo em reconhecer a derrota nas eleições gerais de 2014 e pela sua exigência de governar nas seis províncias onde reivindica vitória nas urnas.