Gritos, pancadas nas mesas e críticas ao presidente do Parlamento Nacional timorense marcaram o arranque de um debate parlamentar sem precedentes, instado pelo maior partido, o CNRT, para eleger nova mesa do parlamento.

A tensão inicial surgiu quando o presidente do Parlamento Nacional, Vicente da Silva Guterres, do Congresso Nacional de Reconstrução Timorense (CNRT), abriu o debate sobre requerimento da bancada do seu partido para a substituição ou eleição de presidente do Parlamento Nacional e da Mesa do Parlamento.

O CNRT defende a eleição de uma nova mesa por perda de confiança no presidente do Parlamento Nacional (PN).

“É a primeira vez na história do PN e da República Democrática de Timor-Leste. Este é um assunto muito importante para o Estado, com implicações para a vida do povo”, afirmou.

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Vicente da Silva Guterres pediu um debate com “calma e serenidade” e afirmou que os requerentes tinham que fundar “claramente” o requerimento e que deveria ser dado tempo a si e aos membros da mesa que o desejassem para que também pudessem intervir.

Os comentários de Vicente Guterres acabaram por suscitar fortes críticas da bancada do seu partido, que interrompeu o seu discurso criticando os comentários, inclusive com pancadas nas mesas.

Em particular quando o presidente do parlamento disse que é responsabilidade de todos “evitar golpes quer no órgão de soberania do PN, no Governo, na Presidência República e também golpes militares”.

Voltando a pedir “calma e serenidade e debates sem emoção” mesmo que estejam em causa “assuntos sensíveis”, tentou depois explicar o que considera serem os factos que causaram a crise atual.

“Estou em causa e quero falar. Temos que dar tempo ao requerente mas temos que dar tempo para pelo menos os visados se possam declarar. O povo não entende e há vários deputados que não entendem”, afirmou, enquanto vários deputados diziam que se devia limitar a debater o requerimento.

Em particular referiu-se a comentários críticos do Presidente da República no final do ano passado, que culminaram no seu veto do orçamento, e à decisão de exonerar o chefe de Estado maior geral das forças armadas (CEMGFA).

“Mas a razão fundamental dos problemas com o PR é porque supostamente ele cria um partido político. Em qualquer atitude, qualquer posição do PR, começa a sentir-se que eu dou vantagem a esse partido político. Mas temos que ver os factos”, disse.

“Eu fui acusado nos jornais, ouvi e li mas não respondi. Hoje eu quero usar o tempo para esclarecer as coisas e responder ao que me foi dito, às difamações de que fui alvo na comunicação social”, insistiu.

Natalino dos Santos, líder da bancada do CNRT, voltou a ler o requerimento, com argumentos do fim do bloco de coligação com o Partido Democrático (PD) e depois insistiu na legitimidade para reeleger a mesa do parlamento.

“Isto não tem nada a ver com exoneração ou essas questões. Este requerimento é assinado por 29 deputados do partido. Os deputados assumem cargos políticos com base nas decisões do partido”, afirmou.

“Se há assuntos políticos a debater no partido, debatem-se na bancada ou no partido. Aqui debatemos o requerimento. E a plenária é órgão soberano, se a plenária decidir, a maioria estiver a favor, continua o processo para eleição. É um processo normal”, considerou.

O líder da bancada do CNRT insistiu que Vicente Guterres “não tem a confiança do partido e dos deputados da bancada” e, como tal, “não tem autoridade”.

“Sem essa confiança como é que o presidente pode fazer o seu serviço? Eu sou presidente da bancada mas se os meus colegas não tiverem confiança em mim eu tenho que resignar. Peço ao senhor PR que se foque no requerimento e não noutros assuntos”, considerou.

Adriano do Nascimento, do PD e vice-presidente do parlamento, insitiu que não entende os argumentos do CNRT, afirmando que o seu partido rejeita que em algum momento tenha violado o acordo de coligação com o CNRT.

“A coligação não significa que não podemos ter a nossa posição. Mas sempre de um ponto de vista do diálogo. Sempre dialogamos com o CNRT e contribuímos para ultrapassar situações difíceis”, disse.

José Luis Guterres, líder da bancada da Frente Mudança, declarou que o seu partido apoia a mudança, frisando que o seu partido “cumpriu a missão perante o Estado e povo” e considerando “normal” os processos de mudanças nas lideranças.

“Tenho consciência tranquila de dever cumprido. Temos uma nova conjuntura, com grandes desafios internos e internacionais. Precisamos de consenso nacional para a luta pela construção do Estado, para defender os direitos do povo de Timor”, afirmou.

“Tanto no governo como no parlamento devemos procurar consensos necessários para com força e energia defender o povo de Timor-Leste. Apoiaremos a mesa eleita”, afirmou.