Uma tonelada de carne de porco foi assada e oferecida este sábado a quem ia a passar na zona do Parque das Nações, em Lisboa, como forma dos suinicultores alertarem para a crise e apelar à compra de carne portuguesa.

“Gostosa” ou “saborosa” foram alguns dos qualificativos usados, em declarações à Lusa, por quem usufruiu deste mega churrasco gratuito, organizado pelo Gabinete de Crise dos Suinicultores Portugueses e pela Federação Portuguesa das Associações de Suinicultores e que captou a atenção de quem ia a passar e fez mesmo alguns saírem de casa propositadamente para um almoço inesperado.

Hélder Ribeiro, de 65 anos, estava ao início da tarde em casa a ver televisão quando a notícia sobre a iniciativa dos suinicultores o fez querer juntar-se para experimentar as sandes de porco e também partilhar da sua luta.

“A luta deles é legítima. Têm de pagar ordenados, impostos, rações, que os animais não podem deixar a morrer à fome”, considerou, defendendo que a rotulagem da carne devia ser mais visível “com etiquetas com bandeiras dos países [de origem da carne] para que quem compra visse se era de Portugal ou do estrangeiro”.

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Já Adelaide Osório, de 44 anos, estava de passagem junto à estação ferroviária da Gare do Oriente quando parou para usufruir do porco no espeto. A mulher disse que habitualmente já compra carne portuguesa e defende que a maioria das pessoas também o faça até porque Portugal “precisa de trabalho que há falta de emprego”.

Segundo João Correia, da organização, esta é mais uma iniciativa com que os suinicultores tentam chamar a atenção do consumidor final para a rotulagem da carne, pedindo que “não comprem a carne se não estiver identificada e que deem primazia à portuguesa”.

Desde o final do ano passado que os suinicultores vêm alertado para a crise do setor, nomeadamente para o facto de que são obrigados a vender o quilo da carne abaixo do custo de produção, e pedindo medidas que aliviem a situação difícil que atravessam. Em causa, dizem, estão 200 mil empregos.

Os suinicultores reclamam ainda às grandes superfícies que rotulem corretamente a carne de porco, nomeadamente no país de origem, para que os portugueses consigam distinguir facilmente qual é carne portuguesa e qual é a estrangeira.

“Falou-se da descida da TSU [imposto pago mensalmente à Segurança Social] e não vimos nada. Falou-se na linha de crédito de 20 milhões de euros e nada”, afirmou João Correia, referindo que a única medida até agora tomada é o decreto-lei que torna obrigatória a rotulagem de carnes com a identificação do país de origem ou do local de proveniência.

Suinicultor há 44 anos, José Delgado tem participado em todas as manifestações do Gabinete de Crise e esta não foi exceção. O produtor de 64 anos diz que participa por si mas sobretudo pelos colegas e amigos que tem no setor, uma vez que neste momento o negócio já lhe dá prejuízo e pensa fechar a empresa quando vender os 300 animais que atualmente tem.

“Cheguei a ter 1.000 porcos e agora tenho 300, dentro de poucos meses acabo com tudo, porque não dá para estar a perder o pouco dinheiro que tenho. Mas este é o setor de que vivi, com que criei os filhos, dei um curso a cada um, e dá-me pena ver isto morrer aos bocadinhos”, explicou.

Segundo João Correia, do Gabinete de Crise, o custo de produção do quilo de carne de porco ronda atualmente os 1,40 euros e os suinicultores “andam a vender à indústria entre 30% a 40% abaixo” desse valor, afirmando que por causa disso a produção de porco caiu 30% desde início do ano e que “20 a 30 mil [trabalhadores do setor] entram para o fundo desemprego” na próxima semana.

Usando por comparação o preço de um café — entre 60 a 70 cêntimos — o responsável faz as contas a quanto custa uma refeição de carne de porco para tentar passar a mensagem de que um aumento do preço terá pouco efeito para o consumidor final.

“Numa refeição, se consumimos 250 gramas de carne, tendo em conta o custo médio nas prateleiras no supermercado, de 1,95 euros, esses 250 gramas custam cerca 48 cêntimos. Se imputássemos 50 cêntimos, que é o que necessitávamos [a mais] no preço da carne, que são 25 cêntimos a mais no preço pago ao produtor, isso significa que numa refeição se continua a comer a mesma carne por 62 cêntimos, ou seja, mais barata do que um café”, afirmou.

Esta iniciativa dos suinicultores foi também muito frequentada por turistas que, de passagem pela zona do Parque das Nações, aproveitaram para ter a experiência de ver assar porco no espeto – para muitos uma novidade -, comer sandes de porco e beber vinho tinto português.