Resende, um pequeno concelho do norte do distrito de Viseu, conseguiu colocar o seu nome no mapa de Portugal graças à cereja, um produto que é visto como “um dom de Deus”.

De acordo com o presidente da Câmara de Resende, Garcez Trindade, o seu concelho ganhou visibilidade a partir do momento em que começou a realizar-se o Festival da Cereja, corria o ano de 2002, pela mão do seu antecessor António Borges.

“Há quase 20 anos que se percebeu que a cereja é o ex-líbris do concelho de Resende, pois trata-se de um produto agrícola com particularidades únicas. Tem um ‘sotaque’ diferente, com consistência e alguma doçura, e com a vantagem de aparecer três semanas antes que qualquer outra cereja”, descreve.

Primeiro, começou-se com a festa da cerejeira em flor, que decorria em março, quando a encosta norte do Montemuro ganha um outro colorido, mas foi o Festival da Cereja que “deu a conhecer este dom de Deus ao país”.

“Falar de cereja é falar de Resende. Nos últimos anos, reparo que toda a gente associa o concelho de Resende à cereja, que é uma marca com reputação, pois até aparece alguma cereja, que não é bem de Resende, a ser vendida nas estradas, aproveitando esta designação para vender mais”, sustenta.

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O I Festival da Cereja foi realizado no dia 19 de maio de 2002 e contou com a mobilização de produtores e da população na realização do evento que marcou um novo ciclo promocional do concelho e do seu produto de excelência.

“Com este primeiro festival pretendeu-se dar a conhecer este produto ao país e incentivar os produtores a venderem o seu produto por um preço estabelecido. Depois, incorporaram-se algumas atividades recreativas, culturais e um cortejo temático que ajudam a completar a festa”, lembra.

O Festival da Cereja foi evoluindo, mas “sempre com a marca do sucesso associada”, sendo vendidas, nesse fim de semana do evento, cerca de 100 toneladas de cereja.

“Temos aproveitado todas as ações de marketing levadas a cabo pela Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa para conseguir levar o nosso produto ao país e até fora de portas. Embora tenha outras potencialidades, a verdade é que a grande atividade de Resende é a cereja e, quanto mais cereja houver, mais se vende”, refere.

Com o desenvolvimento económico e social de Resende muito ligado à produção de cereja, o autarca acredita que o futuro do concelho passa por desenvolver um processo de aumento da produção, para o qual já criaram um gabinete de desenvolvimento rural.

“Não há excedentes: toda a cereja produzida é vendida e temos de apostar numa maior produção, com qualidade. Os produtores têm de entender que agora temos outros meios para a promoção da cereja e os planos de marketing preveem a sua internacionalização”, admite.

De Resende sai um quarto da produção nacional de cereja, que para já não é suficiente para chegar à indústria transformadora.

“Já temos alguns produtores a iniciar uma indústria, ainda artesanal, de transformação da cereja, mas só quando tivermos maior produção é que atingiremos esse objetivo. Se houver produção em escala, penso que passaremos a ter pessoas a investir nessa área da indústria da transformação”, considera.

Já o antigo autarca de Resende, António Borges, não tem dúvidas de que o Festival da Cereja trouxe, desde a primeira edição, “um enorme impacto ao concelho”, dando-lhe “uma notoriedade que se veio a acentuar com os anos”.

“Resende era um concelho muito apagado e tivemos de pensar numa forma de impulsioná-lo numa lógica diferencial. Nada melhor do que a cereja para lhe trazer mais-valia, já que se distingue pela cor, sabor e pelo facto de ser a mais precoce e entrar primeiro no mercado europeu”, frisa.

Segundo o agora deputado à Assembleia da República, eleito pelo círculo de Viseu, este festival permitiu que a cereja passasse a ser uma das grandes atividades económicas do concelho.

“No primeiro ano de festival estiveram presentes uns 40 produtores e até tivemos de criar um incentivo financeiro para que participassem. Atualmente, o festival tem mais de 150 produtores e não há espaço para mais ninguém”, conclui.