A Cabify chega a Lisboa a 11 de maio e está incubada na Fábrica de Startups desde março. Mas Florêncio de Almeida, presidente da Associação Nacional dos Transportes Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL), adiantou ao Observador que, “se o Governo não agir” para impedir a empresa de operar, avança para tribunal, tal como fez com a Uber. Ou seja, apresenta nova providência cautelar.

“Vejo isto com preocupação, tal como vejo a Uber e outras que hão de aparecer. Não são só estas. Ou isto é regulamentado ou torna-se uma concorrência infernal”, afirmou Florêncio de Almeida ao Observador.

A tecnológica espanhola tem uma equipa em Portugal que conta com cerca de seis pessoas e prepara-se para ser mais um dos operadores a entrar no (polémico) setor que envolve o transporte de passageiros com motorista privado. Para o presidente da ANTRAL, a única solução é “legalizá-los”, ou seja, regulamentar o setor para que estas plataformas só possam trabalhar com empresas detentoras de alvarás e de licenças.

A Federação Portuguesa do Táxi também enviou um comunicado às redações onde informa “que tal como acontece com o serviço Uber, rejeita a chegada da Cabify a Portugal”.

“Ambas funcionam na ilegalidade por demais demonstrada e lesam todos os contribuintes. A Federação mantém a palavra dada e faz saber que a informação que circula na comunicação social e nas redes sociais é fruto de uma má interpretação, feita por mim próprio, pela qual lamento”, afirmou o presidente Carlos Ramos.

Apesar de, em Espanha, a Cabify também distribuir serviços para taxistas, Florêncio de Almeida diz que isso “é só para encobrir”, porque “não podem trabalhar com uns legais e outros ilegais”. Já para a Uber, a notícia é “positiva”.

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“A existência de concorrência e de alternativas na forma como nos deslocamos do ponto A para o ponto B nas cidades é algo que vemos como muito positivo para os consumidores e para as cidades portuguesas”, afirmou Rui Bento, diretor geral da Uber em Portugal, ao Observador.

Sobre se estão a prever alguma mudança nos serviços que prestam atualmente em Lisboa e no Porto (UberX, Uber Green e Uber Black), Rui Bento optou por não responder. Também não especificou se a entrada da Cabify no mercado vai ter impacto na forma como a tecnológica está a operar no país. Atualmente, a Uber afirma que recorre a empresas parceiras licenciadas para transporte de parceiros e a licenciadas de acordo com a legislação em vigor, que inclui Táxis Letra A, Táxis Letra T, operadores turísticos e empresas de rent-a-car.

Como está a funcionar a Cabify em Espanha?

Em Espanha, os clientes que usam a Cabify podem requisitar um serviço através da aplicação disponível para Android ou iPhone e do site. Aos utilizadores cabe selecionar um ponto de origem e um ponto de destino, podendo requisitar serviço de transporte tanto para os minutos seguintes, como de forma antecipada (reservando desde logo um serviço, com um percurso já delineado, para uma altura posterior). No caso de o serviço ser pedido em antecipação, as tarifas aumentam. Quando o percurso é escolhido, é dada ao utilizador uma estimativa relativa ao custo esperado da viagem.

O motorista da Cabify que prestar o serviço dirige-se, então, ao local selecionado pelo utilizador. Os utilizadores podem acompanhar a aproximação do motorista ao local, em tempo real, consultar os seus dados e o seu histórico e “falar com ele” antes da viagem, se necessário. Os clientes são ainda notificados da chegada do motorista da Cabify ao local combinado, quando esta ocorrer. No final, os pagamentos são feitos através de cartão de crédito ou através de uma conta Paypal.

A empresa de transportes oferece aos utilizadores a possibilidade de escolherem o tipo de veículo em que querem ser transportados. Há quatro serviços à escolha dos utilizadores: o serviço “Lite”, cujo transporte decorre num carro de média dimensão, como um “Toyota Avensis ou [veículo] semelhante, para quatro pessoas”; o serviço “Executive”, em que o veículo utilizado é um “Mercedes classe E ou semelhante”, para quatro pessoas; o serviço “Group” — que prevê o transporte num veículo que permite até seis passageiros, como uma “Minivan Mercedes Viano ou semelhante” — e o serviço “Taxi”, que redireciona os clientes para empresas de táxi locais.

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Os três serviços Cabify são distintos também a nível de custos. O serviço mais barato é o “Lite”, o mais caro o “Group” e o intermédio o “Executive”. Como exemplo, um percurso que vá da Praça de Espanha, em Madrid, até ao Museu Nacional do Prado, também na capital espanhola, custa, em média, seis euros no serviço Lite, 10 euros no serviço “Executive” e 50 euros no serviço “Group”. Como o custo das viagens é calculado por quilómetro percorrido, uma viagem do Campo Grande até ao Areeiro teria um custo relativamente semelhante (seis a 10 euros, nos serviços mais comuns).

O percurso, segundo o Google Maps, demora em média 15 minutos a ser percorrido, de carro. O mesmo tempo que, ainda segundo o Google Maps, demora uma viagem automobilística entre o Centro Comercial Colombo e o Saldanha, em Lisboa, que poderia ficar assim com um custo de entre 6 a 10 euros, para os serviços mais comuns.

Outra das questões habitualmente referidas sobre a forma como a Cabify opera em Espanha é o facto de a empresa possuir licenças de veículo com condutor (VST), que permitem aos veículos da Cabify transportar passageiros. No entanto, na descrição do serviço mais barato oferecido pela Cabify (o “Lite”), presente no site da Cabify, não existe qualquer referência à existência destas licenças, ao contrário do que acontece na descrição dos serviços “Executive” e “Group” (mais caros), onde esta é explicitamente mencionada.

Tanto a aplicação como o site da empresa de transportes guardam as informações relativas às viagens anteriores, registando os destinos já selecionados pelos utilizadores, o que pode agilizar a escolha do percurso, no caso dos clientes regulares.

Tal como a Uber, os utilizadores podem partilhar com outras pessoas, à sua escolha, o percurso que estão a realizar, permitindo que estas acompanhem o trajeto em tempo real. Têm disponível um canal para empresas (que permite um desconto de “até 40%” nas viagens realizadas) e oferecem um “crédito” extra para os utilizadores convencerem outros a criar uma conta.

*Artigo atualizado às 18h34 com informação sobre Federação Portuguesa do Táxi