O compositor e pianista Michael Nyman inicia na próxima quarta-feira, na Casa da Música, no Porto, uma série de concertos que têm por base temas das bandas sonoras que compôs para filmes, como a de “O Piano”.

A digressão marca o regresso do pianista aos palcos nacionais, depois da realizada em 2013 e da atuação, no ano passado, no Teatro das Figuras, em Faro.

Em declarações à Lusa, o músico britânico disse que compor música para cinema lhe dá “especial gosto” mas, como compositor, tem “produzido outro tipo de material, como suites [e ópera], pelo simples prazer de fazer música e deleitar quem a escuta”.

Na quarta-feira, Nyman toca na Casa da Música, no Porto, já com a sala esgotada; na quinta e na sexta-feira, atua no Centro Olga Cadaval, em Sintra, nos arredores de Lisboa, na abertura do Festival de Música, no dia 14, no auditório do Convento S. Francisco, em Coimbra, no dia 21 de maio, no Teatro Micaelense, em Ponta Delgada, e encerra a digressão com um regresso ao ponto de partida, a Casa da Música, no Porto, no dia 22 de maio.

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O alinhamento dos concertos é constituído por “temas familiares” das bandas sonoras que compôs, cujas imagens serão projetadas, enquanto toca.

“A audiência será surpreendida por esta combinação entre música tocada ao vivo e imagens, o que poderá ser também um estímulo”, acrescentou.

A ideia destes recitais partiu “do álbum editado há uns seis anos, ‘The Piano Sings’, que recuperava alguns temas mais conhecidos de bandas sonoras e, por outro lado, permitia afastar aquela apresentação, um pouco à rock n’roll, a Michael Nyman Band”.

“Nestes concertos vou explorar o meu repertório pianístico”, disse o compositor que tem escrito partituras também para ópera.

Nyman, 72 anos, afirmou que este conjunto de concertos mostra mais aquilo que é, “um pianista e um homem que compõe essencialmente para piano, apesar das conhecidas orquestrações de peças pianísticas suas, que têm servido de banda sonora a muitos filmes”, como “O cozinheiro, o ladrão, a sua mulher e o amante dela”, de Peter Greenaway.

A forma como se apresenta a solo “permite uma mais estreita ligação entre o piano e o público” e, neste aspeto, Nyman tem “uma ótima experiência” do público português, que descreve como “atento, conhecedor e entusiasta”.

Nyman recorda especialmente o concerto realizado em 1998, na Exposição Internacional de Lisboa, Expo’98, para o qual musicou poemas de Fernando Pessoa.

O compositor chegou a projetar trabalhar com Mariza, o que não veio a concretizar-se, “devido à incompatibilidade de agendas e até de projetos de carreira”. Aliás, Nyman tinha tido também projetos com Dulce Pontes, que não se efetuaram.

O músico reconhece “o talento e engenho” das duas cantoras, e que “é corajoso” imaginar trabalhar com um compositor, “mas não se pode estar em digressão e, ao mesmo tempo, trabalhar com um compositor”.

Michael Nyman, em 1964, venceu o Howard Carr Memorial Prize de Composição.

Entre 1968 e 1978, foi crítico musical, nunca deixando totalmente de lado a composição, escrevendo até várias peças, durante este período, nomeadamente para filmes de Peter Greenaway, com o seu grupo Campiello Band, antecessor da atual Michael Nyman Band, cujo primeiro álbum foi publicado em 1981.

Nyman compôs para onze filmes de Peter Greenaway, entre os quais “O contrato do desenhador”, “Drowning by numbers” ou “Prospero’s Books”.

Em 1993, compôs a banda sonora de “O Piano”, o filme premiado de Jane Campion, cujo álbum vendeu mais de três milhões de cópias em todo o mundo, e foi distinguido com vários galardões, entre os quais o BAFTA, prémio da academia britânica de cinema e televisão.

Em 2003, iniciou uma residência artística de dois anos no Badisches Staatstheater, em Karlsruhe, na Alemanha, da qual resultaram três óperas.

Em 2005, participou, em Quioto, no Japão, num concerto em defesa da conservação ambiental. Em 2008, foi distinguido pela rainha Isabel II, de Inglaterra, com o grau de comandante da Ordem do Império Britânico. Em 2012, compôs a banda sonora do filme “Everday”, de Michael Winterbottom.