Que São Bento se está a transformar numa das zonas mais dinâmicas da cidade não será grande novidade para os mais atentos a estes fenómenos. Bastará recordar, por exemplo, o recente Triângulo Aberto, iniciativa que uniu, em março, vários espaços do bairro — novos e velhos — numa espécie de open day. A verdade é que só à conta dos bares, restaurantes e afins que abriram por ali nos últimos meses, é possível passar um dia inteiro a vaguear pelas respetivas ruas, do primeiro sumo da manhã ao último copo da noite. Não acredita? Basta seguir o seguinte roteiro, primeiro ilustrado, depois descrito.
De manhã
Para quem acorda cedo mas precisa de um estímulo para ajudar a abrir os olhos, deve considerar, em primeiro lugar, os sumos e boosters da YAO Pressed Juicery. Trata-se de um novo conceito, muito em voga em algumas cidades europeias, como Bucareste ou Amesterdão, em que os sumos são extraídos através de uma prensa, a frio, mantendo assim todas as propriedades das frutas e legumes utilizados. Há garrafas de 25 e 50cl e algumas das sugestões equivalem, segundo os responsáveis, “a comer uma salada inteira”. Já os boosters são pequenas doses de 30 ml que servem como estimulantes, com diferentes propósitos: alguns são puramente energéticos, outros ajudam a queimar energia ou a desintoxicar. Além disso, do pequeno balcão instalado entre a Rua dos Poiais de São Bento e a Calçada do Combro saem ainda smoothies com super alimentos, chás ou leite de amêndoa caseiro.
Ainda neste capítulo, destaque também para o Querido Bistrô, espaço multifuncional aberto desde meados de abril na Rua Nova da Piedade, entre a Praça das Flores e a Assembleia. O pequeno-almoço estilo buffet que serviram até esta semana entre as 8h30 e as 11h foi, ao que consta, suspenso. Mas há sempre o brunch de sábado, entre as 11h e as 16h, no mesmo sistema, por 17,50€. Aliás, os buffets estilo hotel, que também acontecem aos almoços semanais, são uma constante neste espaço que tem um trunfo na manga — leia-se, nas traseiras — para os dias mais quentes, um pátio bem apetecível.
À tarde
Por fora ninguém diria, já que o aspeto da fachada continua, no essencial, semelhante ao que sempre foi. Mas basta entrar no Mercado de São Bento para perceber que no seu interior há novidades que merecem atenção. Algumas não são de agora: a Tasquinha Dim Sum, um projeto dedicado aos snacks típicos do Cantão, por exemplo, transferiu-se para ali desde a Lapa — a anterior localização — em finais do ano passado. E a Aromas e Especiarias, uma loja dedicada, precisamente, a especiarias e chás, também chegou ao Mercado mais ou menos na mesma altura. Bastante mais recente é a Wurst, onde a jovem austríaca Maria Fuchs serve algumas especialidades do seu país, com óbvio destaque para as salsichas, da clássica frankfurter à kasekrainer, recheada com queijo. E é ela própria que as faz, recorrendo à carne biológica da Herdade do Freixo do Meio. Descansem, contudo, os vegetarianos: há opções para todas as bocas, como as kaspressknödel, almôndegas de pão e queijo, ou mesmo salsichas de seitan. Os doces também são típicos e caseiros e vão dependendo, segundo Maria, do tempo que tem para se dedicar à sua confeção.
Do salgado para o doce, é impossível ignorar as criações de Verónica Hawkes, a doceira argentina que está por trás das criações do La Argentina, no final (ou início, depende da perspetiva), da Rua do Poço dos Negros. É bem possível que já tenha ouvido falar dos seus alfajores, ou da sua torta de doce de leite ou até mesmo dos brigadeiros de tamanho generoso: há vários anos que fornece inúmeras pastelarias da zona de Carcavelos, Oeiras e Cascais. Há quatro meses, conta a filha Emília, decidiram instalar-se em Lisboa onde “o movimento é muito maior”. Registe-se ainda que além dos doces têm também empanadas com vários recheios.
À noite
Chegados à hora de jantar, impõe-se recuperar parte do artigo que se escreveu neste jornal há pouco mais de um mês, sobre o Boca Café, o restaurante inserido nas Galerias de São Bento, outra das novidades da zona. Servem nacos da terra e do mar, que é como quem diz de novilho e atum, além uma série de petiscos criativos que remontam — uns mais que outros, é certo — a paragens distantes. Mais uma vez, a respetiva esplanada também será um destino tentador assim que a meteorologia o permitir. Ora veja-se.
E sobram duas opções para o after dinner. Se a vontade do freguês passar por tertúlias e beberetes, nada como apostar no espaço do músico Gimba e da mulher Tita, o Clube Royale — onde, a propósito, também se servem refeições, das grandes e das pequenas. É um espaço castiço de programação variada, onde tão depressa se pode beber assistir a um concerto de piano a quatro mãos, como ver uma performance de Lola Rola (personagem criada por Tita) na montra virada para a Rua do Poço dos Negros.
Se, por outro lado, o desejo for brindar com um cocktail exótico, de inspiração tiki, ou ouvir música curada (ou mesmo tocada, quando é dia disso) pelo DJ e produtor Isac Ace — o programador responsável — rume-se ao novo 45 São Bento, de portas abertas desde março. Há ou não há por onde escolher?