Os pais de uma advogada assassinada pelo marido, em Seia, aceitaram entregar o poder paternal dos netos aos compadres em troca de um carro e de uma semana de férias anuais no Algarve. A informação é avançada pelo Jornal de Notícias, com base numa decisão do Tribunal de Pombal, e foi divulgada esta terça -feira — o dia em que o suspeito do homicídio foi condenado a 19 anos de cadeia.

O homicídio remonta a 18 de novembro de 2014, quando o economista Rui Andrade terá simulado um acidente de viação na sequência de uma discussão com a mulher. O suspeito teria descoberto que a mulher, Ana Rita de 38 anos, manteria uma relação extraconjugal e pensava em sair de casa levando as filhas consigo. Foi acusado de a ter estrangulado a ter, depois, simulado um acidente de viação na estrada que liga Furtado a Sandomil para esconder o crime.

Segundo a acusação, o arguido, motivado por ciúmes, agrediu a companheira e, “com o intuito de provocar na vítima lesões compatíveis com a tese de acidente e que permitissem ocultar as lesões que lhe havia infligido voluntariamente, decidiu simular a ocorrência de um acidente de viação”. É referido que, mantendo a mulher morta no interior do carro, “destravou-o, abriu os vidros das janelas das portas do lado do condutor e do pendura e empurrou o veículo pela ravina ali existente, aguardando que este capotasse ou se incendiasse”.

O caso chegou à barra do tribunal da Guarda a 25 de novembro que, perante um tribunal de júri, acabou a condenar esta segunda-feira o suspeito a 19 anos de cadeia.

Guarda parental muda quando acabarem as aulas

Paralelamente, no tribunal de Pombal, correu o processo de regulação das responsabilidades parentais das duas filhas do casal. A decisão, que foi entregue no Tribunal da Guarda, dita que os pais do economista ficam com guarda das netas, mas obrigados a dar um carro com menos de 30 mil quilómetros aos compadres, pais da mulher assassinada, e uma semana de férias por ano na casa que possuem no Algarve.

No acordo, a que o JN teve acesso, a nova casa das crianças de seis e oito anos é fixada em Furtado a partir de 9 de junho, altura em que termina o ano escolar. Aos avós paternos cabe definir a orientação escolar e religiosa das netas, assim como autorizar viagens ao estrangeiro. As restantes decisões ficam atribuídas ao pai — que já se encontrava em prisão preventiva quando a decisão foi tomada e que foi agora condenado a pena de prisão efetiva. Também cabe ao pai, que as crianças têm visitado na prisão de quinze em quinze dias, a responsabilidade de administrar os bens das filhas.

O acordo estabelece que os avós de parte a parte e os advogados não deverão tecer comentários sobre o estabelecido enquanto não terminarem as aulas. No entanto, o advogado do arguido, Hélder Fráguas, acabou por fazer referência à decisão durante as alegações finais. Queria mostrar ao tribunal que os pais de Rita “só querem dinheiro”. Os pais da advogada assassinada pedem uma indemnização de quase meio milhão de euros.

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