Perdido num armário, numa livraria da Tasmânia, na Austrália, estava um pequeno diário, manuscrito. “Journal 1811”, dizia a capa. No canto superior direito, outra inscrição: “Alentejo”. À primeira vista, o livreiro pensou que podia valer uns 20 dólares. Mas depois avaliou melhor: era um tesouro — o diário de um proeminente oficial do exército britânico que detalha o cerco anglo-português à cidade espanhola de Badajoz, entre maio e junho de 1811, durante as Guerras Napoleónicas.

A descoberta é revelada pela BBC, que dá conta do encanto dos historiadores com os manuscritos de John Squire, um sofisticado oficial do exército britânico, com especial talento para a escrita e interesses que ultrapassavam o campo de batalha.

No pequeno diário, Squire revela os detalhes técnicos do cerco em que também participaram os portugueses, sob o comando do Duque de Wellington, sem adiantar, contudo, muita informação sobre o contexto da operação.

Os donos da Cracked and Spineless, que vende livros em segunda mão, não sabem como é que o diário foi parar à loja e desconfiam que pode ter estado esquecido num armário, no meio de uma pilha de livros antigos, durante mais de 20 anos.

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“Os donos anteriores colecionavam centenas de milhares de livros”, conta Mike Gray, um dos atuais donos. “Alguns deles estavam num armário, por isso pedi a uma pessoa interessada em livros antigos para ver se conseguia encontrar alguma coisa”, continua. “Trouxeram-me o diário e eu pensei ‘está bem, talvez uns 20 dólares, mas vou verificar'”, admite.

Afinal, avaliado por historiadores, tratava-se de um autêntico tesouro. John Squire, que morreu em 1812, pouco tempo depois de Badajoz ter sido reconquistada a Napoleão, era um oficial importante, que aparece referido em relatórios do Duque de Wellington.

Algumas das suas cartas estão na British Library, a biblioteca nacional do Reino Unido. Os seus diários e ensaios versam tanto sobre assuntos técnicos de guerra, como sobre antiguidades e ajudaram a contar a história de alguns momentos importantes do século XIX. Por isso, Squire é bem conhecido pelos historiadores.

Um “tesouro” genuíno, garante Gavin Daly, um perito na Guerra Peninsular da Universidade da Tasmânia, à BBC, adiantando que já foi confirmada a correspondência entre a caligrafia do diário e a do oficial do exército britânico.