Nove milhões de cidadãos sírios deixaram as suas casas desde que a guerra civil se instalou no país, em março de 2011. Apenas 11% – cerca de 1 milhão – destes refugiados chegaram à Europa. O percurso que fazem de costas voltadas para a Síria já levou para a morte 1.648 migrantes só este ano, a esmagadora maioria no mar Mediterrâneo. Um percurso que durante a II Guerra Mundial se faia em sentido contrário: então eram os europeus que procuravam fugir ao mesmo destino, o da guerra, que afetou mais de 60 milhões de pessoas.
A guerra ainda estava no auge quando a Administração dos Refugiados e da Assistência do Médio Oriente (MERRA) e vários grupos de apoio social abriram campos na Síria, Egito e Palestina para receber dezenas de milhares de pessoas que saíam da Europa em busca de segurança, conta a Public Radio International. Em março de 1944, o número de europeus que saíam do continente prometia aumentar cada vez mais. Embora as estatísticas sejam escassas, a maior parte dos europeus que chegavam a estes países da MERRA tinham nacionalidade búlgara, croata, grega, turca ou jugoslava.
Quando chegavam aos campos de refugiados registavam-se para que lhes fosse entregue um cartão com o seu nome, um número de identificação e alguma informação sobre os estudos e capacidades que tinham. Os militares mantinham um registo mais pormenorizado dos refugiados europeus: a ficha tinha nome completo, género, estado civil, profissão, número de passaporte, um espaço de comentários especiais, data de chegada e em alguns casos a data de partida.
A seguir, os europeus eram levados para uma instalação médica, que podia ser um hospital ou um edifício vazio improvisado com material médico. Primeiro despiam-se, depois eram lavados pelos enfermeiros até que os militares dessem como oficial que estavam livres de todas as doenças. Nesse espaço de tempo, toda a roupa e sapatos eram lavados e desinfetados. A seguir os refugiados eram divididos: as famílias iam para um lado, as crianças abandonadas para outro e os solteiros eram encaminhados para outra zona do campo, separados por género, homens de um lado e mulheres do outro.
A vida dentro dos campos de refugiados não era totalmente de clausura, explica a Universidade de Minnesota no site do Arquivo Histórico da biblioteca. Em alguns deles havia horários de passeios em que os refugiados podiam sair do campo, na companhia de militares, para irem ao cinema ou às compras: compravam comida ou produtos de higiene e de papelaria caso tivessem levado algum dinheiro consigo. E até podiam tomar banho no mar Vermelho, no caso dos que tinham ficado alojados em campos de refugiados próximos. As refeições, no entanto, eram todas feitas dentro dos campos, ora em cantinas ora em cozinhas improvisadas, sempre tendo em conta as crenças religiosas e os costumes dos países de origem dos refugiados.
Cientes de que os funcionários dos campos de refugiados eram muito poucos em comparação com o número de pessoas que recebiam, a MERRA decidiu juntar ao útil ao agradável: convidou alguns dos europeus a aplicar os seus conhecimentos dentro dos próprios campos. Alguns faziam trabalho de carpintaria, pintura ou sapataria, outros chegaram mesmo a dar aulas às crianças. Às mulheres ficavam reservadas as funções de cozinha, de limpeza ou de enfermaria. Era nos próprios hospitais que algumas das mulheres mais letradas aprendiam fisiologia, primeiros socorros, obstetrícia e pediatria. Ter um trabalho não era obrigatório em todos os campos, mas era aconselhável.
Recorde as imagens das ondas de refugiados da II Guerra Mundial na fotogaleria.