O tríptico de Bosch “Tentações de Santo Antão”, um dos tesouros nacionais do Museu de Arte Antiga, está a receber intervenção preventiva para viajar para Madrid, onde fará parte da exposição do Museu do Prado, dedicada ao mestre holandês.

“Está muito bem e não precisa de restauro. Foi feita uma intervenção de prevenção para que a obra viaje nas melhores condições, sem nenhum perigo”, disse aos jornalistas Susana Campos, responsável pelo Departamento de Restauro de Pintura do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa.

“Tentações de Santo Antão”, a obra mais importante da coleção de pintura europeia do MNAA, vai figurar entre os 25 quadros de Hieronymus Bosch (1450-1516), ou a ele atribuídos, que a exposição “El Bosco: La exposición del centenário” apresentará no Museu do Prado, a partir do próximo dia 17, incluindo “O Jardim das Delícias”, da coleção daquele museu.

A data da partida das “Tentações”, obra criada no século XVI, é sigilosa, por questões de segurança, segundo o museu, que a irá emprestar durante quatro meses, até setembro deste ano, para assinalar os 500 anos da morte do artista.

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Apesar de estar classificada como tesouro nacional, este tríptico, considerado uma peça central na obra de Bosch, por ter sido inovadora, é tratada como qualquer peça que saia do museu: “Todas as obras, antes de saírem, passam pelo departamento. São observadas por nós cuidadosamente, e é registado fotograficamente o estado de conservação, os pontos mais frágeis, os que devem ser monitorizados com mais cuidado e eventuais alterações”.

De acordo com Susana Campos, o tríptico “Tentações de Santo Antão” está “em excelente estado de conservação, muito estável”.

“O autor, quando a fez, usou de certeza as melhores técnicas. Com os anos que tem, está intacta, não apresenta grandes alterações, nada de significativo, apenas um pouco no verniz”, apontou.

Nas mãos dos técnicos, o tríptico passou por um “acondicionamento, ajuste de parafusos, limpeza de poeiras e verificação técnica muito cuidada do seu estado de conservação, para depois ser acompanhado durante todo o trajeto, e na chegada ao local da exposição, para ver se não sofreu nenhuma alteração”.

“É sempre tudo registado fotográfica e graficamente”, assegurou a responsável do museu em Lisboa, que deverá receber – “em troca” – o autorretrato de Albrecht Dürer, da coleção do Prado.

Joaquim Oliveira Caetano, conservador da coleção de pintura do museu, disse aos jornalistas que “esta é uma das obras centrais de Bosch, porque foi nela que o artista ensaiou coisas novas”.

“As versões antigas sobre o sofrimento do santo eram todas mais simplificadas. Nesta, ele cria um modelo inédito, com um novo processo, muito mais complexo, que será depois replicado”, apontou.

Assinado por Bosch, em 1500, o tríptico de Lisboa integra os quatro elementos do universo – céu, terra, água e fogo – tornando-os cenário de personagens estranhas, cuja presença remete para os temas recorrentes do artista: a solidão do homem justo perante o mal e o diabólico.

As “Tentações de Santo Antão”, de Bosch, são, em importância, o equivalente aos Painéis de São Vicente de Fora, na pintura portuguesa, segundo o museu.

Desde que há registo da entrada do quadro no museu, em 1913, proveniente das coleções reais que se encontravam no Palácio das Necessidades, o tríptico de Bosch saiu quatro vezes do MNAA, indicou José Alberto Seabra à Lusa.

Em 1935 esteve em Paris, para participar numa exposição sobre mestres holandeses, em 1936 esteve em Roterdão, na Holanda, para uma exposição dedicada a Bosch, e viria a sair novamente em 1958, para Amesterdão, para uma mostra de arte holandesa.

A última vez que o tríptico da coleção portuguesa saiu do museu foi em 1991, para a exposição sobre a arte no tempo das Descobertas, na National Gallery de Washington, nos Estados Unidos – “Circa 1492” -, quando passavam 500 anos sobre a data que assinala a descoberta da América.

Nascido em Hertogenbosch, na Holanda, por volta de 1450, Jeroen van Aeken, cujo pseudónimo é Hieronymus Bosch, dedicou-se à gravura e pintura, retratando, em muitas das suas obras, cenas de tentação e pecado, com figuras híbridas que vieram influenciar vários movimentos na História da Arte, nomeadamente o Surrealismo.