O líder socialista esteve esta quarta-feira à noite numa sessão do partido, em Lisboa, para debater a moção que leva ao congresso do início de junho e garantiu confiança nos resultados da execução orçamental deste ano e que isso será suficiente para chegar às metas com que o Governo se comprometeu junto da Comissão Europeia, que reconhece estar “cética” e até “pessimista” relativamente aos objetivos traçados pelo Executivo socialista. António Costa mantém totalmente afastada a necessidade de recorrer a medidas adicionais para chegar a”melhor défice de 42 anos”.

“Sem qualquer nova medida continuamos confiantes que atingiremos o défice de 2,2% que é o que temos no nosso Orçamento do Estado e é aquele que nos propomos cumprir e que nos propomos atingir”. A garantia é do socialista e primeiro-ministro, que esta quarta-feira de manhã foi confrontando com um relatório da Comissão Europeia, em que esta instituição se mostrou “cética” — palavra usada por António Costa — sobre a capacidade de Portugal chegar sequer ao valor de défice que traçou como meta. A Comissão tem previsto um défice de 2,7% para este ano, que diz agora que deve ficar nos 2,4%.

Mesmo nesta visão cética da Comissão Europeia, a verdade é que 2,7% é abaixo dos 3%, seria o melhor défice dos últimos 42 anos e seria mesmo um dos melhores de toda a Europa do Sul. O que é que isto significa? Que a Comissão pela primeira vez reconhece que com este Orçamento, este Governo, e com esta maioria nós ficaremos abaixo dos 3%”

Costa acaba, assim, por se juntar ao Presidente da República na leitura positiva das metas que têm vindo de Bruxelas: “Este relatório vem confirmar a previsão da Comissão Europeia de que este ano, pela primeira vez, teremos um défice abaixo dos 3%. É a primeira vez que a Comissão o prevê e é uma previsão até pessimista e pouco confiante na ambição que o Governo tem de ir mais além”.

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“Ninguém tem de revogar o que considera irrevogável”

A recusa de medidas adicionais também é central para evitar dissidências dentro da maioria de esquerda que o primeiro-ministro garantiu perante o partido que está estável e que converge “naquilo que é essencial e que permite garantir a estabilidade”, afirmou Costa. “Esta não é uma maioria onde procuramos disfarçar as divergências que temos, pelo contrário, a solidez desta maioria assenta na clareza com que assumimos os compromissos uns com os outros, na transparência perante os nossos eleitorados e a liberdade que cada um tem de nunca ter de dar o dito pelo não dito e ninguém ter de revogar o que considera irrevogável“.

O equilíbrio desta maioria que suporta o Governo, diz o primeiro-ministro “não é fácil, é exigente. Porque temos de simultaneamente relançar a economia, gerir as finanças com rigor e acomodar um conjunto de despesas que assumimos nos nossos compromissos eleitorais”.

António Costa deixou ainda um apelo aos socialistas europeus para que não se diluam “nas correntes neoliberais e democratas cristãs” para que os “cidadãos não deixem de ter uma alternativa no campo democrático: só estaremos a contribuir para fortalecer populismos”. Perante os militantes, e a dois dias das eleições diretas para a escolha do secretário-geral do PS, o socialista ainda deixou um apelo ao voto (tem uma lista opositora, a de Daniel Adrião). O congresso realiza-se em Lisboa entre 3 e 5 de junho.