A época de 2015/2016 foi uma mão cheia de nada quanto a títulos. Ou “booola”, citando Jesus. O Jorge. Isto se descontarmos da contenda, claro, a Supertaça ganha em agosto último ao Benfica no Algarve, mas que ainda diz respeito à época transata. O futebol foi de primeira água no campeonato, não há dúvida, mas o caneco acabou por ficar do outro lado da Segunda Circular.

Bruno de Carvalho, o presidente, apesar de tudo, é um bem-amado. Era vê-lo na noite em que o Benfica festejava no Marquês de Pombal, a sair das garagens de Alvalade a pé (enquanto os jogadores do clube saíam nas suas “bombas” a alta velocidade), a misturar-se entre os adeptos, aplaudido, reconfortado por todos, mais um entre sportinguistas.

Longe vão, pois, os anos do Sporting “dos viscondes” — tão mal de finanças como de futebol. Poucos são os que querem esse Sporting de volta. Mas há-os. Na internet. Talvez a página “Primeiro clube do mundo com liderança dinástica” não seja para levar a sério. Mas lá que tem graça, tem. E lá se pede um candidato para destronar Bruno de Carvalho. Um candidato improvável — ou não: D. Duarte Pio, o Duque de Bragança.

Num comunicado enviado para as redações, e assinado (só) por “Aristocrata”, se explica que os adeptos do Sporting “não se reveem no estilo guerrilheiro e sem finura no trato” de Bruno de Carvalho. E pede-se, em seguida, que o homem do leme em Alvalade seja uma “figura proeminente na sociedade, com méritos incontestáveis”, como é o caso de D. Duarte Pio de Bragança. “É este o homem certo para tomar conta dos destinos do Sporting Clube de Portugal e para fazer algo que é tão inédito como inevitável: tornar o Sporting Clube de Portugal o primeiro clube com uma liderança dinástica”, lê-se em seguida.

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A ideia pode até não ter pés nem cabeça. E D. Duarte Pio não terá sido tido nem achado nesta candidatura a… candidatura. Porém, na página oficial desta se explica o porquê deste ser o homem certo para o lugar certo. Com muito humor à mistura.

Primeiro, “o seu padrinho de batismo foi Augusto Fernando Barreira de Campos”, antigo Presidente do Sporting Clube de Portugal. Depois, o seu batismo foi no velhinho estádio do Lumiar (onde os “Cinco Violinos”ganharam o epíteto) e nem Peyroteu faltou à festa. “Fernando Peyroteu era o ídolo de infância de D. Duarte Pio”, garante-se. Consta que o primeiro brinquedo do petiz Duarte foi “uma bola de futebol” com o símbolo do clube. E mais, para se atestar do seu sportinguismo de berço: “Quando tinha 8 meses de vida, a primeira palavra que proferiu foi ‘Sporting’, tendo, aos 9 meses de vida, dito ‘Sporting Sempre'”.

É tudo? Não. Saltemos até à meninice. No site, claro. Terá sido D. Duarte, na casa onde cresceu, a quinta da Bela Vista (ou melhor, a “Quinta de Alvalade”, como depois a rebatizou), em Canidelo, o responsável pela composição de “conhecidos temas que ainda hoje são cantados em Alvalade, como ‘Só eu sei’, ‘Contigo em toda a parte’, ‘O mundo sabe que’ e ‘Uma curva belíssima'”.

Homem feito, D. Duarte Pio de Bragança foi o “responsável maior de grandes feitos” do Sporting, nomeadamente “a marcação do primeiro golo no Estádio José de Alvalade”. Mas esse não foi Luís Filipe? Em parte sim. Em parte não. D. Duarte marcou “ainda antes do apito inicial do jogo” do Sporting contra o Manchester United, a 6 de agosto de 2003.

E parece que os adeptos gostam dele: “É visto com frequência no Estádio José de Alvalade e recorrentemente ovacionado pelo povo presente.”

Mas D. Duarte, ou quem escreve por “ele”, não é só um verbo-de-encher. Tem propostas para o futuro do Sporting. Diferentes, mas propostas. Ponto assente é que o Sporting Clube de Portugal será “o primeiro clube do mundo com liderança dinástica”. E como clube “dinástico” que é, propõe-se “a alteração do nome do camarote presidencial para ‘Tribuna Real’, onde seja construído um trono a ocupar pelo Real Leão”.

Os azulejos de Tomás Taveira são polémicos desde o começo? Pois… retirem-se, “para colocar ouro e madeira” na sua vez. Jorge Jesus também vai ser retirado do banco. E vem para o seu lugar um treinador que já esteve com pé e meio em Alvalade — e que Pinto da Costa desviou para o Dragão. Eis a proposta: “Contratação de André Villas-Boas como treinador da equipa de futebol, pois apenas ele tem origem compatível com o cargo, dado ser bisneto de José Gerardo Coelho Vieira Pinto do Vale Peixoto de Villas-Boas, o 1.º visconde de Guilhomil, título criado pelo rei D. Carlos I, em 1890.”

Os jogadores, também eles, serão afetados pela chegada do putativo presidente real. Primeiro, vai haver mudança nas camisolas que vestem, com a “obrigação de os jogadores portugueses terem escrito nas camisolas ‘de’ entre o nome próprio e o apelido (v.g. Adrien de Silva e João de Mário)”. Depois, a mudança é mais profunda, tendo eles que voltar às aulas. O “candidato” a presidente do Sporting exige que “o capitão da equipa de futebol tenha formação pós-graduada e os restantes membros do plantel tenham, pelo menos, uma licenciatura”.

O verão vai ser quente para os lados de Alvalade. E da Casa de Bragança. Ou não.