É quase impossível encontrar alguém que não tenha preenchido as horas mortas a jogar “Snake” num ecrã a preto e branco (que era mais verde que preto). Recordamos esses tempos com nostalgia. Antigamente é que era: os jogos eram divertidos, as baterias duravam vários dias, o telemóvel caía de um terceiro andar e mesmo assim não se partia. Bom filho à casa torna, diz a sabedoria popular, e talvez seja por isso que a última tendência entre famosos é usar telemóveis antigos.

CULVER CITY, CA - JUNE 5: (U.S. TABLOIDS OUT) Actress Scarlett Johansson talks on her cellular phone at the 2004 MTV Movie Awards at the Sony Pictures Studios on June 5, 2004 in Culver City, California. The 2004 MTV Movie Awards will air on the MTV Network June 10, 2004 9 PM (ET/PT). (Photo by Kevin Winter/Getty Images)

Scarlett Johansoon. Créditos: Getty Images

Danny Groner é uma dessas pessoas que resistiu à sensualidade tecnológica dos telemóveis inteligentes. E não, não é um velho do Restelo que vive com saudades do futuro: é um jovem de 32 anos, gestor da agência de fotografias Shutterstock, avaliada em 1.200 milhões de dólares. E é um dos menos de um terço da população norte-americana que não tem um smartphone. “Passo treze ou catorze horas à frente de um ecrã. Não têm de ser dezassete”, justifica ele à BBC. Mas admite que o progresso tecnológico nos telemóveis a que ainda não aderiu só vieram facilitar a vida dos trabalhadores: “Se toda a gente fosse como eu nenhum trabalho acabaria”, não porque esses telemóveis são realmente mais capacitados, mas simplesmente porque são mais rápidos.

NEW YORK - SEPTEMBER 10: Anna Wintour uses er cell phone backstage during the Zac Posen show during Olympus Fashion Week Spring 2005 at the Theatre in Bryant Park September 10, 2004 in New York City. (Photo by Paul Hawthorne/Getty Images)

Anna Wintour. Créditos: Getty Images

Que a moda das coisas antigas anda a pairar há algum tempo por aí, já todos nos tínhamos apercebido: são os móveis antigos pintados de novo, os vestidos às bolinhas até aos joelhos. E agora os telemóveis “de abrir e fechar”, que ao ritmo a que são desenvolvidos os novos smartphones podem muito bem corresponder aos anos 20 da tecnologia. Para a psicóloga Holly Parker, docente da Universidade de Harvard, a utilização de telemóveis antigos é como um grito do Ipiranga na atualidade: “A utilização de um telemóvel com flip é um declaração audaz e luxuosa para proclamar que temos controlo”, que não nos deixámos vender pelos telemóveis que exigem atenção, como os smartphones.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

LOS ANGELES, CA - FEBRUARY 23: Kate Beckinsale is seen at Los Angeles International Airport on February 23, 2011 in Los Angeles, California. (Photo by GVK/HM/Bauer-Griffin/GC Images)

Kate Beckinsale. Créditos: Getty Images

Na verdade não são os telemóveis que exigem atenção: são as pessoas do outro lado da linha, que podem não conceber que uma pessoa queira e possa estar desconectada. Foi sobre isto que Bruno Mettling, subdiretor da empresa de telecomunicações francesa Orange, escrever num relatório entregue ao Ministério do Trabalho em França. Segundo ele, existe uma generalização de um ideal que obriga funcionários e superiores a estarem constantemente disponíveis uns para os outros. E não há nenhuma parte na lei que consiga restringir esse ideal. Ou não havia: precisamente em França foi aprovada uma lei que garante o “direito a desconectar-se”.

UNITED STATES - : Sen. Charles Schumer, D-NY., makes a call in the Senate subway of the U.S. Capitol on May 7, 2013. (Photo By Douglas Graham/CQ Roll Call)

Senador Chuck Schumer. Créditos: Getty Images