António Galamba, ex-deputado socialista e crítico assumidíssimo da atual direção do PS, volta ao ataque: “O país não é uma quadratura do círculo onde se diz uma coisa e o seu contrário”.

O segurista não poupa críticas à atuação do Governo socialista. Num artigo de opinião publicado no jornal i, o ex-deputado começa por questionar a gestão do processo Uber e dos contratos de associação. “Não é normal que, em boa parte das contestações com medidas anunciadas, o Governo procure mitigar as situações acenando com cenouras que em nada salvaguardam o interesse dos cidadãos, dos utentes ou dos alunos”, escreve o socialista.

Sobre o fim dos contratos de associação celebrados com os colégios privados, mais críticas. António Galamba ataca os “talibãs do bitaite, que no espaço de 24 horas conseguem diabolizar os privados e, de seguida, defender o virtuosismo supletivo destes onde o Estado não foi, não quis ou não tem recursos para ir (…) Isto é coisa de gente séria e credível?“, questiona.

O Presidente “quase perdeu o pio” e “quando fala é despeitado”, continua António Galamba. “Pediu diálogo” e recebeu como troca um corte no financiamento dos colégios particulares e cooperativos que mantinham relações com o Estado. “Não é norma que, na ânsia de afagar egos pessoais e partidários, a prioridade máxima seja dada ao reforço da popularidade junto de quem está dentro do sistema, na função pública ou nas órbitas de interesse, com indiferença perante o resto”, escreve o socialista no jornal i.

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António Galamba atira-se ainda ao aumento do número de funcionários públicos com contratos a termo — “vergasta-se a precariedade no verbo, pratica-se a incerteza na função pública” –, o aumento da dívida direta do Estado, o parco crescimento da economia portuguesa no primeiro trimestre — “pior, só a Grécia”–, e a indefinição do Governo na questão das 35 horas. Costa garante que “a proposta que existe é que as 35 horas entrem em vigor para o conjunto dos trabalhadores em funções públicas no dia 1 de julho”; Centeno ressalva que “existem situações localizadas que ‘requerem um período de adaptação que não coloque em causa nem o serviço público nem as finanças públicas'”. “O país não é a quadratura do círculo, onde se diz uma coisa e o seu contrário“, escreve António Galamba.

As críticas sobem de tom quando o assunto é a vida interna do partido. O tal “partido das pessoas normais” que o socialista denuncia, vai reeleger António Costa “com cifras norte-coreanas para gáudio dos defensores da democracia, da liberdade de expressão e do pluralismo, sempre com taquicardias com a possibilidade de eclosão de um esboço de diferença ou a divergência”, atira o ex-deputado do PS.

“Há muito que a normalidade deixou de fazer parte da vida dos portugueses, quanto mais do partido e do país. Não há país sem pessoas e a normalidade foi-se. Resta o sectarismo. Já não é pouco“, termina António Galamba.