António Guterres teve um regresso triunfante ao Largo do Rato, em Lisboa, para falar sobre refugiados, mas deixou um aviso a Eduardo Cabrita, ministro adjunto e que estava na primeira fila: “Há generosidade na política governamental, mas há trabalho a fazer para garantir que os vários departamentos dão resposta às pessoas que vêm para Portugal”. O antigo primeiro-ministro defendeu ainda a legalização “maciça” da imigração para a Europa de forma a dar resposta ao problema demográfico e à crise que se vive no Mediterrâneo.

A próxima vez que vir António Guterres, Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS, espera encontrá-lo como secretário-geral da ONU. O antigo líder socialista voltou ao Largo do Rato, à sede do PS, para falar sobre refugiados e encontrou uma onda de apoio à sua candidatura ao cargo de topo da ONU, não só entre os militantes do PS presentes, mas também de Rui Tavares, líder do Livre, e que nesta quinta-feira partilhou o painel de discussão com Guterres. “Para mim, António Guterres constitui uma esperança num momento complicado, é preciso alguém que tenha a capacidade intelectual e filosófica e também a capacidade pragmática para imaginar e implementar soluções. Esperemos que estas capacidades sejam postas ao serviço da comunidade internacional brevemente”, afirmou o antigo eurodeputado.

Guterres ouviu as histórias e as questões de vários refugiados em Portugal vindos da Síria, da Eritreia e do Iraque, tendo na plateia ilustres socialistas como o presidente do partido, Carlos César, o ministro adjunto, Eduardo Cabrita, e a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Margarida Marques. A solução para resolver os problemas mais urgentes dos refugiados é, segundo António Guterres, “criar volume maciço de oportunidades legais para os refugiados virem para países mais desenvolvidos” e para isso é preciso criar vistos estudantis, vistos de trabalho e garantir a reunificação das famílias, dando como exemplo os boat people, refugiados da Indochina, que chegaram aos milhões nos anos 1970 à Europa e aos Estados Unidos da América.

“A maioria dos países europeus tem fertilidade muito baixa. É uma realidade incontornável. As sociedades europeias definharão sem imigração”, afirmou António Guterres, que disse ainda que a Europa não tem capacidade para tomar conta dos seus idosos e que a sua própria mãe, de 93 anos, recebe assistência de cidadãos estrangeiros que vivem em Portugal. Numa tirada dirigida a Eduardo Cabrita, Guterres afirmou ainda que quando esteve reunido com refugiados em Portugal, “as queixas eram enormes”, afirmando que o Governo tem “muito trabalho de casa a fazer” e que é preciso organizar os serviços para dar melhores condições às populações refugiadas que vivem em Portugal.

Rui Tavares, antigo eurodeputado eleito pelo Bloco de Esquerda e atual dirigente do Livre, defendeu a introdução de um passaporte prioritário para uma entrada de refugiados mais célere na Europa e que, na sua experiência, o problema dos refugiados começa quando os governos nacionais da UE se apercebem que é necessário “contar os seus tostões”. “A promessa dos direitos humanos tem de ser cumprida, sabemos cumpri-la e durante muitas décadas funcionou. Já conseguimos resolver problemas tão sérios como os que temos agora, mas assistimos ao pré-colapso do sistema de direitos humanos”, afirmou Rui Tavares.

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