O Serviço SOS Pessoa Idosa da Fundação Bissaya Barreto, em Coimbra, que completa dois anos no sábado, recebeu, durante este período, 300 pedidos de ajuda, na maior parte dos casos denunciando violência psicológica e financeira.

A maior parte das vítimas são mulheres com média de idade de 78 anos, conclui a Fundação, adiantando que “os agressores são, muitas vezes, os próprios descendentes, homens, com média de idade de 57 anos”.

Os agressores são “denunciados pelas próprias vítimas ou por outros familiares e vizinhos” e os pedidos de ajuda têm origem, maioritariamente, nos distritos de Lisboa, de Coimbra, do Porto e de Setúbal, acrescenta a Fundação Bissaya Barreto (FBB) numa nota enviada esta sexta-feia à agência Lusa.

“Os muitos pedidos de ajuda recebidos”, durante estes dois anos, não revelam, no entanto, “a total dimensão do problema, porque ainda há receio em denunciar”, sublinha a Fundação.

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“Mudar mentalidades e comportamentos face ao envelhecimento e à proteção dos direitos dos idosos” é, por isso, a principal preocupação dos responsáveis, acrescenta.

O SOS Pessoa Idosa é um serviço de intervenção social, criado, em 2014, pela FBB, que integra uma linha gratuita de atendimento telefónico (800 990 100), um “serviço de atendimento direto e personalizado e um gabinete de mediação familiar, garantindo toda a confidencialidade no apoio e acompanhamento prestados aos idosos, às famílias, aos profissionais das áreas da saúde e de apoio social e a outras pessoas envolvidas”.

O Serviço tem desenvolvido “uma ação importante junto dos serviços de proximidade da vítima idosa, sinalizando e pedindo a intervenção célere dos serviços identificados considerados pertinentes, articulando e agilizando a comunicação entre diferentes setores” (como centros de saúde, serviços de segurança social, IPSS e comarcas), refere a FBB.

“Este trabalho de ativação e monitorização multissetorial é considerado um caminho importante a desenvolver”, salienta o mesmo comunicado.

Para Fátima Mota, assessora da Área Social da FBB, o número de apelos não reflete a verdadeira dimensão do problema, porque existe ainda um grande muro de silêncio ao redor dos maus tratos aos idosos e continua a ser muito difícil para uma vítima denunciar um agressor que é, muitas vezes, um familiar.

“Os estereótipos sobre o declínio físico e cognitivo na idade avançada, tomando por usual o patológico, a infantilização frequente da pessoa idosa, retirando-lhe a palavra e a sua autodeterminação, a feminização do envelhecimento, que duplamente discrimina a pessoa, e a desatualização do código civil de 1966, são fatores que contribuem para a desproteção da pessoa idosa”, sustenta Fátima Mota, citada pela Fundação.

Num quadro de colaboração com as entidades judiciárias, o Serviço SOS Pessoa Idosa formalizou em setembro de 2015 um protocolo de cooperação com a Procuradoria-Geral Distrital de Coimbra, para a promoção da proteção judiciária a pessoas idosas que dela necessitem.

No âmbito do acordo, o Serviço comunica os casos de idosos que careçam de proteção jurídica e que residam nas comarcas abrangidas por Coimbra, Castelo Branco, Guarda, Leiria e Viseu, enquanto a Procuradoria-Geral Distrital de Coimbra encaminha para a FBB situações de pessoas idosas que necessitem de apoio social ou de mediação familiar.