Passados 15 anos desde que os Estados Unidos invadiram o Afeganistão, a guerra no país não parece ter fim à vista. Parte do problema passa pela falta de informação que existe acerca das forças de segurança, no país. A BBC Mundo explica que os vários problemas vão desde a corrupção ao mais alto nível no exército, à falta de motivação das tropas, que chegam a passar fome e que lutam numa guerra que se arrasta há mais de uma década.

Os dados em relação à dimensão do exército afegão são escassos e enganadores. Os números mais recentes dão conta de um efetivo de 325.000 soldados e polícias, mas não se sabe quantos soldados estão nas linhas da frente, nem de que tipo de material dispõem. Nos documentos oficiais ainda constam os nomes de soldados mortos em combate ou de desertores. Há também nomes falsos de pessoas que nunca existiram. Em Helmand, uma das regiões mais afetadas pelo conflito, cerca de 40% dos soldados que aparecem nos dados oficiais não existem.

Numa altura em que os talibãs continuam a ganhar terreno, a desinformação que surge em torno das forças afegãs dificulta a batalha contra o grupo terrorista.

A invasão dos Estados Unidos em 2001 derrubou o regime talibã, mas desde que a NATO retirou a sua missão do Afeganistão, a luta contra o grupo islamita ficou inteiramente a cargo das forças de segurança afegãs. O Governo norte-americano investiu cerca de 53 mil milhões de euros (60 mil milhões de dólares) na formação das tropas, mas a corrupção dentro do exército compromete os resultados do conflito.

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Os oficiais do exército reportam números muito superiores aos efetivos para que possam receber os salários correspondentes aos números oficiais. Ainda assim, muitos dos soldados que lutam nas fileiras não recebem salários e passam fome. Há relatos de pessoas a desertarem do exército por falta de comida ou por verem que não estão em igualdade de circunstância em relação a outros colegas.

Muitas das deserções acontecem porque dentro do exército a distribuição (de comida, salários, funções a cumprir ou até mesmo de direito a férias) não é feita de maneira justa e funciona de acordo com favoritismos.

Para além da inflação do número de soldados nos dados oficiais para receber mais financiamento, a corrupção passa também pelo tráfico de droga por parte de alguns oficiais.

Este tipo de atitudes cria um sentimento de desmotivação nos trabalhadores do exército, que sentem que não têm razões para lutar por um país onde reina a corrupção ao mais alto nível.

O problema não é novo e Washington já tinha alertado para o problema em 2006. O prolongamento da guerra e o enraizamento da corrupção dentro das forças de segurança enfraquecem um exército que era forte e tido como um exemplo, para além de comprometerem a segurança interna do país. A solução deste problema pode passar pela reestruturação das forças militares, mas como diz Inayatulhaq Yasini, editor do departamento pashtun da BBC, “os exércitos não se fazem num dia”.