Uma delegação do Governo moçambicano e da Renamo, principal partido de oposição, retomam esta quarta-feira negociações sobre a paz em Moçambique e sobre a preparação de um encontro ao mais alto nível entre as duas partes.

O encontro está previsto para a manhã de hoje em Maputo. Ao fim de vários meses sem contactos conhecidos entre os dois lados e do agravamento da crise política e militar no país — com um número desconhecido de mortos e prejuízos — esta será a primeira vez que o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) voltam ao diálogo.

A Renamo anunciou na quinta-feira os nomes dos deputados José Manteigas, Eduardo Namburete e André Magibire como membros da sua delegação.

Do lado do Governo, Filipe Nyusi já tinha designado em março Jacinto Veloso, membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança, Maria Benvinda Levi, conselheira do Presidente da República, e Alves Muteque, quadro da Presidência, para a preparação do encontro com Dhlakama.

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A reunião será antecedida por uma conferência de imprensa da Renamo, na sua sede nacional em Maputo.

Para a Renamo, uma carta enviada por Nyusi a 17 de maio pedindo a criação de condições para o reatamento do diálogo não ignora a mediação internacional nas fases posteriores ao trabalho da comissão mista e que tem sido uma das condições impostas por Dhlakama para voltar às negociações.

“Consideramos que há mínimas condições para que essa indicação seja feita, pois o ofício de 17 de maio do gabinete da Presidência da República apresenta uma pequena evolução, ao deixar claro que o grupo vai preparar os pontos para o diálogo, harmonizando os procedimentos e termos de referência”, declarou o porta-voz do partido de oposição, António Muchanga.

As negociações entre o Governo moçambicano e a Renamo estão paralisadas há vários meses, depois de a Renamo se ter retirado do processo, alegando falta de progressos e de seriedade por parte do executivo.

Apesar da disponibilidade para as conversações, a última semana foi marcada por várias ações militares atribuídas pelas autoridades a homens armados da Renamo, incluindo ataques a viaturas civis e assassínio de dirigentes da administração local.

Mas também por ações que o partido de oposição entende serem ações de intimidação contra os seus membros ou contra a livre expressão em Moçambique.

Ao chegar da sua visita à China no domingo, o Presidente moçambicano considerou que o diálogo tem de ser acompanhado pelo fim das ações militares da Renamo.

“O importante primeiro é parar com as armas que matam moçambicanos”, declarou.

Moçambique tem conhecido um agravamento da violência política, com relatos de confrontos entre a Renamo e as Forças de Defesa e Segurança, além de acusações mútuas de raptos e assassínios de militantes dos dois lados e ainda ataques atribuídos pelas autoridades ao braço militar da oposição a alvos civis no centro do país.

O principal partido da oposição recusa-se a aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, ameaçando governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.