“Alice do Outro Lado do Espelho”

O segundo filme da Disney baseado num livro de Lewis Carroll depois de “Alice no País das Maravilhas”, de Tim Burton, em 2010, tem o mesmo elenco deste, encabeçado por Johnny Depp, Mia Wasikowska e Helena Bonham Carter, interpretando todas as mesmas personagens; tem a mesma argumentista (Linda Woolverton; tem o mesmo responsável pela música (Danny Elfman); tem ainda mais efeitos digitais do que aquele e junta-lhe Sacha Baron Coen no papel do Tempo. Faltam-lhe apenas duas coisas: Tim Burton, que se ficou por ser produtor e foi substituído por James Bobin, o responsável pelos dois novos filmes dos Marretas; e uma ligação mínima ao livro homónimo, como Burton tinha mantido no primeiro filme. Sem eles, “Alice do Outro Lado do Espelho” é apenas mais um caríssimo e sofisticadíssimo filme fantástico em 3D com uma história rasa de juntar pelos pontinhos, que nos faz perder quase duas horas do mesmo tempo que é central à sua intriga. E é lamentável que a Cronosfera, a máquina em que Alice viaja no tempo, seja um compósito descarado da do professor Mortimer em “A Armadilha Diabólica”, e de “A Máquina do Tempo” do filme de George Pal baseado no clássico de H.G. Wells.

“Uma Nova Amiga”

Claire (Isild Le Besco) e Laura eram melhores amigas desde a infãncia. Casam-se e Laura tem uma filha antes de Claire. Mas morre de súbito, deixando Claire devastada e David (Romain Duris), o marido, a braços com uma criança de colo. Um dia, Claire descobre por acaso que David, para acalmar a menina e dar-lhe o biberão, veste-se de Laura. Mas será que o faz só por isso e por ter uma saudade imensa da mulher morta, ou porque lá no fundo se sente mais homem que mulher? Claire decide guardar o segredo de David, mas a sua cumplicidade vai-se tornando cada vez mais ambígua e incómoda. Estará Laura a apaixonar-se por David (que agora lhe pede para a tratar por Virginie quando está na sua pele feminina), ou será que tinha uma atração lésbica recalcada pela amiga? Baseado num livro de Ruth Rendell, o novo filme de François Ozon tem uma aura hitchcockiana, um erotismo malsão e uma atmosfera mórbida e necrófila que o realizador cultiva com a sua elegância, o seu “understatement” emocional e o seu sentido da arrumação narrativa. O problema é que Romain Duris não é nem por sombras convincente vestido de mulher, e Ozon não resiste a um final moralizante e colado à agenda LGBT.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Bons Rapazes”

Ryan Gosling é um detective particular na Los Angeles dos anos 70 e Russell Crowe o seu parceiro “civil” que aluga os músculos a quem lhe pagar, e investigam a morte de uma estrela da indústria pornográfica nascente e a desaparição de uma misteriosa rapariga da alta sociedade, neste “buddy movie” de acção e comédia escrito e realizado por Shane Black, o criador da trilogia “Arma Mortífera”. Trapalhões mas aplicados, os dois detectives envolvem-se em perseguições, tiroteios e cenas de pancada um pouco por toda a cidade, levando com eles a precoce, irrequieta e faladora Holly, a filha de 13 anos da personagem de Gosling, interpretada pela jovem australiana Angourie Rice, a revelação deste filme e a consciência do pai e do parceiro. “Bons Rapazes” foi escolhido pelo Observador como filme da semana, e pode ler a crítica aqui.