A primeira temporada de Chef’s Table foi recebida com grande expectativa. Afinal, o homem por trás da câmara, David Gelb, fora responsável por um dos mais incríveis documentários gastronómicos alguma vez feitos, Jiro Dreams of Sushi (2011). E não desiludiu. Pelo contrário, deu novo ímpeto à ideia de que comida e televisão — ou comida na televisão — pode resultar em algo muito mais entusiasmante que ver Martha Stewart a fazer tartes, Gordon Ramsay a insultar cozinheiros ou Jamie Oliver a cortar cebolinho sem olhar para a faca.

Assim, não foi de estranhar que no início de março se tivesse anunciado não apenas uma segunda temporada da série — a tal que já está disponível no serviço de streaming –, mas também uma terceira, só com chefs franceses, e uma quarta, a ser lançada algures em 2017. Mas cada coisa a seu tempo. Para já, interessa conhecer os seis protagonistas daquilo que aí vem.

Alex Atala

Brasileiro, 47 anos. Restaurante D.O.M, em São Paulo (Brasil)

Brazil,

(foto: © Ricardo D’Angelo / Netflix)

O responsável pelo D.O.M, em São Paulo, é, provavelmente, o nome mais forte da gastronomia brasileira na atualidade. Mais: é uma autêntica rockstar, com tatuagens e coleção de motos a condizer. O seu percurso vai muito além do restaurante, que tem duas estrelas Michelin e é o 9º melhor do mundo na lista World’s 50 Best — são frequentes as suas viagens à Amazónia e a outras regiões em busca de novos ingredientes. Entre os vários outros projetos que tem em mãos, destaque para o novíssimo Açougue Central, uma casa de carnes sustentáveis na Vila Madalena, e para o seu Instituto Atá que tem como objetivo levar ao renovado Mercado Municipal dos Pinheiros, também em São Paulo, produtos de todo o Brasil, com a sustentabilidade em primeiro plano.

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Ana Ros

Eslovena, 44 anos. Restaurante Hiša Franko, em Soča Valley (Eslovénia)

Slovenia,

(foto: © Divulgação)

Aconteceu por acaso, mas enquanto se escreviam estas linhas, a chef eslovena do Hiša Franko estava na cozinha do Cais da Pedra, em Santa Apolónia, em plena participação no festival Sangue na Guelra, como o Observador escreveu aqui. O que não é por acaso é ver o seu nome surgir neste tipo de contexto. Ros pegou no restaurante da família na região montanhosa de Soča Valley, junto às fronteiras com Itália (a três quilómetros) e com a Áustria (a 30), e tem revolucionado, a partir daí, a cozinha do seu país, com uma abordagem a que chama “zero quilómetros” — todos os ingredientes que usa para cozinhar vêm das redondezas. E porque é que não tem uma estrela Michelin? Porque o Guia ainda não chegou à Eslovénia.

Dominique Crenn

Francesa, 51 anos. Restaurante Atelier Crenn em São Francisco (Estados Unidos)

San Francisco / Dominique Crenn,

(foto: © Divulgação)

No final do mês passado, a chef francesa, radicada nos Estados Unidos e responsável pelo Atelier Crenn, em São Francisco, foi distinguida com o título de Melhor Chef Feminina do Mundo, atribuído pela mesma plataforma que define a lista World’s 50 Best. E este não é o primeiro título importante do seu currículo: em 2012 tornou-se a primeira mulher a receber duas estrelas Michelin nos Estados Unidos. Não admira, por isso, que Crenn seja uma figura respeitadíssima nos Estados Unidos, com presença frequente em TedXTalks (para falar de assuntos como, por exemplo, a escassez de mulheres na alta cozinha).

Enrique Olvera

Mexicano, 40 anos. Restaurante Pujol na Cidade do México (México)

Quando se pensa em comida mexicana pensa-se, geralmente, em tacos e enchiladas. Mas há quem faça por elevar a fasquia da gastronomia local. Enrique Olvera, do Pujol, considerado um dos três melhores restaurantes da América Latina e um dos 20 melhores do mundo, é uma dessas pessoas. Mas não se pense que quebra a tradição do país. Pelo contrário, homenageia-a, recorrendo, com frequência, a ingredientes tão improváveis como insetos, cactos ou frutas vindas de vários pontos — muitos deles inóspitos — do México.

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(foto: © enriqueolvera.com)

Gaggan Anand

Indiano, 36 anos. Restaurante Gaggan em Banguecoque (Tailândia)

É curioso, mas aquele que será, quiçá, o melhor restaurante indiano do mundo não está na Índia, mas sim na Tailândia. É o Gaggan, que rouba o primeiro nome a Gaggan Anand, um chef de Kolkata que chegou à Tailândia em 2007 para uma consultoria que devia ser breve mas que, diz, “como um verdadeiro indiano” acabou por ficar no país. Foi considerado, em 2015, o melhor restaurante asiático da lista World’s 50 Best. Nada mau para um projeto que, segundo o próprio chef, nasceu de uma noite de copos com os seus atuais sócios.

KOLKATA, INDIA - 2013/11/26: Gaggan Anand in Kolkata. The patron chef of celebrated restaurant, Gaggan, in Bangkok, Anand was born in Kolkata before following an illustrious career that included cooking for the Indian president before moving to Bangkok in 2007. His eponymous Bangkok restaurant turns Kolkatan street food tastes and textures into haute cuisine. (Photo by Leisa Tyler/LightRocket via Getty Images)

(foto: Leisa Tyler/LightRocket via Getty Images)

Grant Achatz

Norte-americano, 42 anos. Restaurante Alinea em Chicago (Estados Unidos)

Desde a sua abertura, em maio de 2005, que o Alinea, de Grant Achatz, se tornou presença constante nas listas de melhores restaurantes do país e do mundo (para citar a expressão favorita Rodrigo Guedes de Carvalho). E isto porque Achatz, cuja relação com este mundo começou pela loiça suja do restaurante dos pais, ainda em criança, foi uma das primeiras caras de um movimento modernista que introduziu uma nova forma de pensar não só a cozinha mas também a restauração. Foi, por exemplo, num dos seus restaurantes de Chicago, o Next, que se estreou um sistema de bilheteira, permitindo aos clientes adquirir entradas para um jantar como se de um filme ou espetáculo se tratasse. No início deste ano, o chef levou o Alinea em digressão até Madrid, num pop-up de um mês. Escusado será escrever — mas escreva-se, ainda assim — que as reservas esgotaram mais depressa que dólares em bancos angolanos.

Chicago / Grant Achatz,

(foto: © Peter Sorel / Netflix)

A segunda temporada de Chef’s Table está disponível no Netflix.