Colesterol elevado, hipertensão arterial e obesidade. 52,3%, 36% e 28,7%. Estas são, respetivamente, as prevalências de cada uma das três doenças mencionadas, na população residente em Portugal. Embora os dados não sejam completamente surpreendentes, vêm confirmar aquela que era a indicação que já havia de estudos anteriores e alertar, mais uma vez, para o problema da elevada prevalência de doenças crónicas. O primeiro Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico (INSEF), promovido pelo Instituto Ricardo Jorge, tem como grande mais-valia a validação, através de análises, daquilo que até aqui era sobretudo feito com base nas respostas dos inquiridos.

Este inquérito dá-nos uma visão mais válida porque, para além da visão referida pelo próprio, para muitos fatores foi possível medi-los e validá-los”, explicou ao Observador Carlos Dias, coordenador geral do INSEF.

Por outro lado, continuou o responsável, “ao fazer a desagregação da análise por idade, sexo, região, grau de instrução, é possível identificar grupos-alvo, de modo a tentar levá-los ao nível dos grupos com níveis mais baixos, dando corpo aos ganhos em saúde, apostando na prevenção”, cujos resultados serão apresentados, esta manhã, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, e a que o Observador teve acesso.

E é essa desagregação dos dados por idade, sexo, região, grau de instrução e situação perante o trabalho, que permite perceber que “após remover o efeito do sexo e da idade, as prevalências padronizadas tiveram valores mais elevados de hipertensão arterial e obesidade na região Norte, obesidade abdominal na região Centro, diabetes na região autónoma dos Açores, e alteração do perfil dos lípidos do sangue na região Centro“, por exemplo. E que “a população sem escolaridade ou com baixa escolaridade, e a população sem atividade profissional tinha prevalências padronizadas para o sexo e idade mais elevadas no caso da hipertensão arterial, diabetes, excesso de peso, obesidade e obesidade abdominal e alteração dos lípidos do sangue”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Portugueses fazem pouco exercício físico e bebem demais

Em relação aos comportamentos de risco, que se confirmam através do inquérito propriamente dito, há “elevadas frequências de sedentarismo nos tempos livres”. Quase metade da população residente (44,8%) não pratica exercício, com maior destaque para as mulheres (48,5%), para o grupo etário dos 55 aos 64 anos (46,9%), para a Região Autónoma dos Açores (52,5%), e para a população com menor escolaridade (51,6%) e desempregada (46,9%).

E é por ter noção deste elevado nível de sedentarismo que ainda esta segunda-feira, a Direção-Geral de Saúde apresentou a Estratégia para a Promoção da Atividade Física.

Já no caso do tabaco, “era consumido diariamente ou ocasionalmente por 28,3% da população masculina e por 16,4% da população feminina”.

E no que toca ao consumo perigoso de bebidas alcoólicas (mais de seis bebidas numa só ocasião), reportado por 33,8% da população masculina, este tipo de consumo era, em 2015, mais prevalente no grupo etário mais jovem tanto nos homens (51,9%) como nas mulheres (13,7%), diminuindo com a idade. As regiões do Alentejo e Região Autónoma da Madeira tinham as prevalências mais elevadas em qualquer dos sexos, lê-se no resumo das conclusões.

A identificação de grupos com indicadores de saúde distribuídos de forma diferente a nível regional, ou nos subgrupos populacionais analisados, fornecem informação útil na priorização das intervenções e na quantificação de potenciais ganhos de saúde, como a população mais idosa, menos escolarizada ou desempregada que surgem, de modo geral, com indicadores de saúde mais desfavoráveis”.

Foram estudadas quase 5.000 pessoas de Norte a Sul, passando pelas ilhas

Este inquérito — que segue os procedimentos definidos pelo Centro de Referência para Inquéritos de Saúde com Exame Físico do Instituto Nacional de Saúde e Bem-estar da Finlândia — foi realizado com base numa amostra de 4.911 pessoas, dos 25 aos 74 anos, residentes em Portugal continental ou regiões autónomas dos Açores e da Madeira há, pelo menos, 12 meses.

A grande mais-valia deste estudo passa pelo “facto de conjugar informação colhida por entrevista direta ao indivíduo (sobre o seu estado de saúde, determinantes de saúde, comportamentos e utilização de cuidados de saúde, incluindo preventivos) com dados de uma componente objetiva de exame físico (que incluiu a medição da tensão arterial, peso, altura e perímetros da cintura e anca) e recolha de sangue (para avaliar, por exemplo, o nível do colesterol)”, explicou o coordenador do INSEF.

O objetivo deste estudo passa por “contribuir para a melhoria da saúde dos portugueses, apoiando as atividades nacionais e regionais de observação e monitorização do estado de saúde da população, avaliação dos programas de saúde e a investigação em saúde pública”, explica o Instituto Ricardo Jorge. O próximo passo será aprofundar as causas destas doenças assinaladas com destaque na população portuguesa.