A Europa prepara-se para construir o maior telescópio terrestre da próxima geração. O Observatório Europeu do Sul (ESO) assinou um contrato com o consórcio ACe para a construção da cúpula e estrutura do European Extremely Large Telescope (E-ELT). Este é o maior contrato alguma vez atribuído para a construção de um telescópio terrestre.

O E-ELT será um telescópio ótico segmentado que terá 39,3 metros de comprimento. De acordo com Carlos Martins, investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, este telescópio terá missões tão ambiciosas como testar a universalidade das leis da física, caracterizar a energia escura e a matéria escura (que constituem mais de 95% do universo), perceber a origem das primeiras estrelas e das primeiras galáxias do universo; e caracterizar atmosferas de exoplanetas para descobrir se existe alguma possibilidade de conterem vida.

O telescópio, que será instalado no Cerro Armazones (Chile) a 20 quilómetros dos restantes telescópios do Observatório, pode garantir que esta entidade europeia prossegue “em posição de liderança mundial” nas investigações que vão marcar as próximas décadas, explica Carlos Martins, que é membro da equipa responsável por monitorizar a construção. É que o European Extremely Large Telescope terá características únicas: na sua composição estão cinco espelhos, dois dos quais são deformáveis. Isto permite ter em conta as distorções causadas pela atmosfera nas observações e acertá-las. Resultado? Imagens quinze vezes mais nítidas que as do telescópio Hubble.

Mas este investimento de 1.083 milhões de euros – dos quais 5.1 milhões de euros tiveram origem em Portugal, um dos países membros do ESO – não servirá apenas para olharmos para cima. As aplicações da indústria envolvida no nascimento deste telescópio são as mesmas que vão permitir desenvolver áreas como diagnóstico e cirurgia ocular, microscopia confocal, soldadura laser, tratamento do cancro da pele ou comunicação ótica em espaço livre. E isto traz outras vantagens para o país, conta Carlos Martins ao Observador: Portugal já terá recebido de volta cerca de 30% do valor que investiu à conta dos contratos industriais que lhe foram direcionados. “É bem possível que Portugal obtenha um lucro económico com a participação no programa”, diz o cientista.

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