Mais cinco corpos foram encontrados por um grupo de jornalistas da France Presse (AFP) e Deutsche Welle (DW) em Macossa, centro de Moçambique, aumentando para vinte o número de cadáveres descobertos na região, informou a agência noticiosa francesa.

“A partir da berma da estrada, o cheiro é forte a partir dos corpos de pelo menos nove homens e mulheres”, escreve a AFP, referindo-se ao local onde há um mês já tinham sido identificados pela Lusa e DW quatro cadáveres abandonados no mato.

Contactados hoje pela Lusa, jornalistas da equipa que se deslocou ao local confirmaram que se trata do mesmo onde já tinham sido documentados quatro corpos, a que se juntam cinco novos cadáveres e restos de ossadas descobertos do outro lado da estrada.

A AFP e DW estiveram também no local onde, a 01 de maio, foram descobertos por um grupo de jornalistas, incluindo a Lusa, onze outros corpos debaixo de uma ponte próxima da Estrada Nacional 1, a principal de Moçambique.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Esses corpos foram entretanto sepultados pelas autoridades, mas “nenhuma autópsia foi realizada, e quatro crânios e alguns ossos ainda são visíveis na areia”, relata o texto da AFP, com o título “O regresso dos horrores da guerra civil em Moçambique”.

Com estes corpos noticiados pela AFP, aumenta para vinte o número de cadáveres encontrados ao abandono no mato, entre os distritos de Gorongosa e Macossa, no centro de Moçambique.

“Acho que é difícil entender como qualquer investigação pode ser feita sem a realização de uma autópsia aos corpos”, comentou Zenaida Machado, investigadora moçambicana da Human Rights Watch, citada no texto da AFP, acrescentando que “o Governo de Moçambique deve dizer quem são aquelas pessoas, como morreram e quem deixou seus corpos lá”.

Estes cadáveres foram descobertos nas proximidades do local onde vários camponeses relataram à Lusa a existência de uma vala comum com mais de cem pessoas.

Apesar de várias tentativas, os jornalistas não conseguiram chegar ao local devido à forte presença de militares numa região que tem sido marcada por confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).

“Na Zona 76, o suposto local da vala comum, todos têm muito medo de falar sobre isso”, prossegue o texto da AFP, recordando que as autoridades moçambicanas negaram a denúncia feita pelos camponeses.

A comissão parlamentar encarregada de investigar uma vala comum com mais de cem corpos negou na terça-feira a denúncia feita à Lusa por vários camponeses e disse que vai trabalhar outros “presumíveis” casos.

“O resultado [das investigações] permite-nos afirmar de forma categórica, inequívoca e definitiva que não há uma vala comum em Canda”, afirmou Edson Macuacua, que dirigiu, um mês depois do testemunho dos camponeses, uma visita da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e Legalidade da Assembleia da República à zona da denúncia, no distrito de Gorongosa, província de Sofala.

Embora durante a fase de audições da comissão parlamentar tenha dito que os trabalhos dos deputados iriam apenas cingir-se à denúncia da vala com mais de cem corpos, Edson Macuacua disse que serão igualmente averiguados os casos de cadáveres que jornalistas documentaram e fotografaram na província de Manica.

“Temos de trabalhar também na província de Manica, tendo em conta que, além dos relatos a que tivemos acesso, apontava-se para a presumível existência de valas comuns em Manica e também presumíveis situações de violações de direitos humanos”, declarou.

Quer a Comissão Nacional de Direitos Humanos, vinculada ao Estado, como a ONU e organizações não-governamentais não se pronunciaram entretanto sobre se tentaram ou conseguiram ter acesso ao local.

A região da Gorongosa, onde se presume encontrar-se o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, tem sido marcada por confrontos entre o seu braço armado e as forças governamentais.