O fotojornalista português Mário Cruz conseguiu esta terça-feira angariar o dinheiro necessário para publicar um livro sobre crianças escravizadas em falsas escolas corânicas do Senegal.

“Estou bastante feliz por perceber que a mensagem passou e que o livro vai ser criado para servir de prova”, disse o fotojornalista da Lusa.

A meta de 28 mil dólares (cerca de 25 mil euros) foi ultrapassada dois dias antes do fim da campanha de angariação lançada na Internet.

Mário Cruz recebeu a confirmação na Guiné-Bissau, minutos antes de inaugurar uma exposição que mostra 15 das fotografias que fez há um ano no Senegal e em solo guineense.

“É muito gratificante ver famílias a observar estas fotos. Para elas é uma surpresa, mas o choque inicial depressa se transforma numa vontade de mudar as coisas”, referiu.

Mário Cruz disse sentir “uma grande união” de entidades locais e dirigentes religiosos no sentido de proteger as crianças.

A mostra itinerante vai percorrer a Guiné-Bissau para alertar as famílias sobre a prática que por vezes vê crianças enviadas para escolas corânicas do Senegal a partir dos cinco anos e que a família só volta a ver aos 15. Muitas vezes essas escolas são falsas e na verdade as crianças são entregues às escolas para serem exploradas pelos mestres.

O livro que pretende ampliar a denúncia deverá ter entre 65 a 75 fotos e Mário Cruz espera vê-lo publicado até final de setembro.

“Vamos tentar perceber como vamos distribuir da melhor forma possível e depois produzi-lo o mais rapidamente possível para que esta prova física chegue às mãos das pessoas do Senegal, Guiné-Bissau e um pouco por todo o mundo”, concluiu.

O projeto “Talibes Modern Day Slaves” resulta do desafio lançado ao fotojornalista pela FotoEvidence, organização internacional que premeia e cria publicações de reportagens sobre injustiças sociais e violações dos direitos humanos.

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Há um ano, Mário Cruz tirou uma licença sem vencimento e passou dois meses no Senegal a investigar e fotografar a vida de crianças talibés’, que vivem em falsas escolas de ensino do Corão (escrituras sagradas muçulmanas) e mendigam pelas ruas.

Na altura, viajou também até à Guiné-Bissau, onde conheceu famílias de crianças escravizadas.

As fotografias captadas por Mário Cruz, 28 anos, valeram-lhe o primeiro prémio do World Press Photo, na categoria Assuntos Contemporâneos e ainda o Prémio Estação Imagem 2016.

Antes disso, a revista de distribuição internacional Newsweek publicou 20 imagens.