O arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, defendeu hoje que o dossiê dos contratos de associação com as escolas privadas, que comparou ao “totalitarismo de Estado”, é uma “campanha” e “uma questão ideológica”.

“Para mim é uma questão ideológica este totalitarismo do Estado. O Estado tem uma função supletiva e não de alguém que assume tudo, nem tem capacidade para isso, nem o deve fazer”, comentou, em declarações aos jornalistas.

Falando em Celorico de Basto depois de ter participado num seminário organizado pela autarquia local sobre família e comunidade, o arcebispo acrescentou a propósito de o Governo querer acabar com dezenas de contratos de associação, 25 dos quais de estabelecimentos da Igreja:

“Estou preocupado com o problema em si porque, prescindindo de outras questões, isto está a obedecer a uma campanha que se irá alargando a outros campos de ação”.

O chefe da arquidiocese de Braga prosseguiu: “Poderá haver razão nesta política, mas o modo como isto foi feito, sem a conveniente reflexão, sem o tempo oportuno, não me parece muito adequado”.

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Jorge Ortiga recordou que os contratos assinados pelo Estado com os estabelecimentos de ensino eram para vigorar por três anos, um período que poderia ser aproveitado para “refletir, encontrar soluções, ver os problemas de uns e de outros e ver o melhor caminho, na defesa dos interesses de todos”.

Vincou, por outro lado, que muitos dos colégios afetados pela medida do Governo poderão vir a fechar, “mais tarde ou mais cedo”, obrigando a despedimentos de professores e outros profissionais, para além de provocarem prejuízos na economia que funcionava em torno dos estabelecimentos, sobretudo na área do comércio.

“Estas escolas existiam em determinados lugares e promoviam um certo desenvolvimento, particularmente do comércio, na linha de restaurantes e cafés. São pessoas que vão ver o seu futuro ameaçado e isso, do dia para a noite, sem a conveniente reflexão”, criticou.

Respondendo a uma questão da Lusa, Jorge Ortiga acrescentou recear que o que está a acontecer com as escolas que tinham contratos de associação possa alargar-se às instituições de solidariedade social e à área da saúde, inclusive com nacionalizações de equipamentos, nomeadamente hospitais.

“Era necessário pensar isso com calma. É uma hipótese e há quem diga que já existe na gaveta propostas para essa possibilidade”, afirmou.

Sublinhando haver “uma pressa de resolver os problemas, sem uma devida ponderação”, reconheceu que essa situação “gera uma apreensão”.

“É necessário refletir sobre que modelo de sociedade que queremos. Se queremos uma sociedade alicerçada na ditadura do Estado, em que o Estado é possuidor de tudo, controlador de tudo, que está em tudo”, vincou.

O arcebispo de Braga comentou: “Dá impressão haver aqui uma ânsia de qualquer coisa que poderá acontecer e não ser possível fazer-se e vamos fazer enquanto podemos”.

À Lusa, o prelado recordou ter exultado na sua juventude com o 25 de Abril.

“Experimentei uma realidade e não gostaria que voltássemos a um controlo estatal”, anotou, apelando aos portugueses para que sejam “capazes de parar, refletir e de verificar que tipo de sociedade é que pretendem”.