O pequenote Darijo tinha de ajudar a família a vender vegetais no mercado. E ia conseguindo aqui e ali juntar umas coroas, um dos ensinamentos mais preciosos do seu pai. Mas um dia ele juntou para alimentar uma paixão. O garoto foi a uma loja de desporto e comprou umas botas para jogar futebol, era a gasolina da sua vida. O pai não gostou. “O meu pai ficou zangado e tirou-mas, dizendo que as ia devolver à loja. Quando voltou, trouxe-me as melhores botas Adidas que eles tinham…”, disse, aqui contado pelo The Guardian.

Este é só um pequeno exemplo do que representava Uzeir Srna para Darijo Srna. A vida de Uzeir, que nasceu em Gornji Stopici, na Bósnia, foi trágica. Até parece mentira. Quando era bebé, Uzeir quase morreu durante a Segunda Guerra Mundial, quando os militares sérvios nacionalistas incendiaram a aldeia onde viva com a sua família. A mãe, que estava grávida, e a sua irmã foram queimadas vivas. Noutra altura deste filme, o pai seria morto depois, por uma bala perdida. Trágico.

A vida de Uzeir continuou. Foi adotado por uma família eslovena, mas o seu destino mudou quando o tio de Darijo Srna, irmão de Uzeir, o encontrou e levou-o de volta para a Bósnia. Mas Uzeir não queria estar na terra de antigamente, e comprou um bilhete para Sarajevo com o primeiro salário do trabalho que arranjou, numa padaria, conta o The Telegraph. E lá foi embora. O futebol apareceu depois: Uzeir tinha jeito para a baliza e tornou-se jogador do FK Sarajevo.

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Por isto tudo, quase arrepia só de imaginar o que sentiu Srna quando, após a vitória contra a Turquia (1-0), lhe disseram que o seu pai tinha morrido durante o jogo. O maior exemplo da sua vida, o homem que fugiu à guerra, à morte, e perpetuou o apelido da família, desaparecia da sua vida. Assim, sem mais nem menos, enquanto ele usava umas botas, como quando era menino.

“A minha família fez sacrifícios para que eu perseguisse o meu sonho de me tornar futebolista de topo. Não tinha outra opção senão ter sucesso”, disse. Darijo ofereceu-lhe carros e uma vida de qualidade, quis compensá-lo por toda a tragédia bósnia que ele viveu na primeira pessoa. “O meu pai e a minha família significam tudo para mim”, disse em 2008, citado pelo The Telegraph. “Não posso esquecer o que eles sofreram, ao tentar encontrar dinheiro para mim. O meu pai teve uma vida muito, muito difícil e eu estou muito orgulhoso que agora ele consiga viver uma vida pacífica”

Darijo Srna, lateral do Shakhtar Donetsk, viajou esta segunda-feira para Metkovic, na Croácia, para estar no funeral do seu pai. Resta saber se regressa a França, para voltar a usar a braçadeira de capitão e levar aos ombros o peso de um país inteiro. Ou então o peso do apelido do pai às costas…

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