Nem o frio que se pôs com o cair da noite no pátio da sede do PSD na São Caetano à Lapa fez Pedro Passos Coelho vestir o cachecol. Basta o pin que leva na lapela e o “calor humano” chega para aquecer. Cachecóis é coisa para a filha mais nova; ela é que descobriu um lá em casa e pôs a família a rir quando se vestiu a rigor. Passos Coelho é mais comedido, já se sabe. Mas está empenhado em aproveitar a onda dos manjericos, do futebol e das festas populares: vai deixar-se filmar e fotografar a ver os próximos jogos de futebol da seleção e promete ir a França apoiar Portugal se passar a fase de grupos.
Mas não só. O presidente do PSD vai na próxima quinta-feira ao Brasil visitar as comunidades portuguesas de São Paulo, Santos e Rio de Janeiro. E talvez vá também um dia destes a Newark visitar os emigrantes portugueses nos EUA. Se calhar só para o ano. É que, já se sabe, “não há pressa”.
Parece que não é só Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa que vão a Paris elogiar os emigrantes e que aparecem na televisão a apoiar a seleção de futebol que joga o campeonato da Europa em terras gaulesas. Passos Coelho até pode ter ficado em terra, longe do romance que por lá se viveu este fim de semana entre o Presidente e o primeiro-ministro, mas não vai ficar de fora dessa competição de popularidade. Para isso chamou a comunicação social e abriu as portas do PSD, na São Caetano à Lapa, para assistir à estreia da seleção no Euro, frente à Islândia, com os funcionários do partido e alguns dirigentes e deputados.
Passos abriu as portas da sede do PSD para ver Portugal jogar. Há sardinhas e petiscos, mas não há muita gente pic.twitter.com/acZ7bdCNmG
— Rita Dinis (@DinisRita) June 14, 2016
Poucos, diga-se. Só a vice-presidente Teresa Morais e o secretário-geral José de Matos Rosa fizeram companhia ao presidente do partido, de cachecol ao pescoço a contrastar com o líder, que se destacou por ter recusado o agasalho de apoio à seleção. Além de Teresa Morais, de Matos Rosa e do líder da JSD, o deputado Simão Ribeiro, mais nenhum dirigente ou deputado se juntou à festa. Os restantes eram maioritariamente funcionários do partido, que aderiram ao mini-arraial que foi montado na São Caetano. Caso chovesse, os organizadores tinham um “plano B” e tinham uma sala reservada para o efeito dentro de portas. “Desta vez havia mesmo um plano B”, ouve-se dizer.
Houve petiscos, sardinhas no pão, minis, vinho e sangria. Passos Coelho, que estava numa reunião e por isso falhou o hino, chegando ao “recinto” já a bola rolava há cerca de 10 minutos, ficou-se pelas sardinhas no pão — “as primeiras que comeu este ano” –, uma taça de caldo verde e um copo de sangria branca que se apressou a pedir ao “senhor Cândido” quando passou por ele. Não é que o ex-primeiro-ministro goste particularmente de futebol. É do Benfica mas não acompanha sequer a primeira liga; as equipas das seleções estrangeiras também conhece pouco, mas nem por isso deixou de gesticular e festejar o golo de Nani aos 31 minutos.
“Eu bem tinha dito que marcavam aos 29′, na primeira meia hora!”, atirou.
Foi por pouco.
Passos também vai a França
Ficou a promessa: se Portugal passar a fase de grupos, Passos Coelho também vai a França apoiar a seleção in loco. “Espero ainda poder ir a França, é sinal de que Portugal passa a fase de grupos e é apurado para a fase final”, disse. Só não foi antes, assistir à estreia em Saint-Étienne, por impossibilidade de agenda.
Esta foi, de resto, uma estreia para o presidente do PSD. À exceção de um jogo do Mundial em 2010 (quando ainda era líder da oposição e não primeiro-ministro), que assistiu num restaurante de Lisboa e chamou a comunicação social para ver, Passos Coelho nunca chegou a ir ao estádio ver um jogo da seleção em campeonatos mundiais ou europeus, nem tão pouco se tinha deixado filmar a ver a bola. Nem quando era primeiro-ministro. Em 2014, no Mundial que se jogou no Brasil, tinha tudo marcado para as meter no avião mas acabou por não ir por causa do chumbo do Tribunal Constitucional a três artigos do Orçamento do Estado. E esse não era um jogo qualquer: era um Portugal-Alemanha e Passos iria estar com Angela Merkel, em plena maré da troika. Passos não foi e Portugal perdeu.
Ainda no rescaldo da ida muito mediatizada de Marcelo e Costa a Paris a propósito do 10 de Junho, esta quinta-feira o presidente do PSD vai ao Brasil visitar as comunidades portuguesas em São Paulo, Santos e Rio de Janeiro. Vai colmatar uma falha que tem no currículo: “Sou o único líder do PSD que ainda não foi visitar as comunidades portuguesas no Brasil”, diz-nos, lembrando também que nunca chegou a visitar, nem como primeiro-ministro nem como líder da oposição, a comunidade portuguesa em Newark, nos EUA. E está nos seus planos ir lá num futuro próximo.
Bem, não tão próximo assim. “Pode ficar para o ano, não há pressa”, diz.
No futebol como na política, “quando se perde pensa-se no próximo jogo”
Junho é mês de santos populares e de futebol, não de política. Daí a ideia de pôr a política no futebol. Há semelhanças? Há.
“Em cada jogo sofre-se, mas pelo menos ficamos a temer mais o próximo e isso faz com que encaremos com mais entusiasmo o próximo jogo”, diz Passos no final do jogo aos jornalistas.
Quer dizer que quando se perde fica-se com mais vontade de ultrapassar o adversário? Bem, Passos não o nega. É que na política, como no futebol, “quando se perde pensa-se no próximo jogo”. Ainda que a política, ao contrário do futebol, “tenha uma corrida de fundo diferente”.
“O futebol tem o propósito claro de vencer um desafio em condições específicas, naquelas condições que são conhecidas naquele momento, naquele preciso instante. Já a política tem uma corrida de fundo diferente”, diz.
A ideia, apurou o Observador, é repetir o número festivo e voltar a abrir as portas do partido para torcer pela seleção. Pelo menos no último jogo da fase de grupos, frente à Hungria, já que no próximo, frente à Áustria, Passos estará à hora do jogo “entre voos”, a caminho do Rio de Janeiro. Caso contrário, admite, até gostaria de ver a bola com a comunidade de emigrantes portugueses.
Sem medo de que dê azar e a seleção volte a empatar como fez hoje frente à Islândia.