Luis Vilardouro, chef de cozinha natural de Valpaços, está convencido de que, por estar instalado e a trabalhar na capital britânica há mais de uma década, poderá ficar no país se o Reino Unido revogar a liberdade de circulação e fechar as fronteiras a trabalhadores europeus.

“Mas estou preocupado como português porque aqueles que chegaram há menos tempo poderão ter de abandonar o país”, admitiu, em declarações à agência Lusa.

António Cunha, conselheiro das Comunidades Portuguesas, confirma o estado de apreensão de muitos portugueses da comunidade face ao resultado que sair do referendo sobre o ‘Brexit’ que vai realizar-se em 23 de junho.

“Há medo e falta de informação. As pessoas não entendem o que se vai passar e estão preocupadas com a hipótese de não poder cá ficar”, disse à Lusa.

A ansiedade tem levado muitos emigrantes ao escritório da advogada Sandra Carito, que se tem surpreendido com o número de crianças não têm qualquer tipo de documento de identificação nem uma nacionalidade estabelecida por falta de ação dos pais.

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No Reino Unido, a inscrição nas escolas pode ser feita apenas com uma certidão de nascimento e a administração britânica raramente pede documentos de identificação pessoal.

“Há muitas pessoas a quererem tratar de regularizar situação por causa do referendo”, disse a advogada à Lusa.

A cônsul-geral de Portugal em Londres, Joana Gaspar, confirma que o consulado tem recebido muitos e-mails com dúvidas sobre as consequências de uma saída do Reino Unido da UE.

A resposta é que “não se sabe o que vai acontecer” e que, a confirmar-se o cenário de saída, “não vai ser um processo imediato, há um período de transição para negociações que pode ir até dois anos”.

Mesmo assim, as autoridades portuguesas recomendam aos mais inquietos que tratem de obter o certificado ou cartão de residência no Reino Unido, uma formalidade que pode ajudar desempregados ou familiares de emigrantes.

Este documento pode facilitar a interação com empregadores ou com a administração pública no acesso a apoios sociais e é também necessário para pedir a nacionalidade britânica.

“Não é o mesmo que a nacionalidade [britânica], mas é um passo. Por exemplo, os residentes não podem ser deportados”, vincou a diplomata à Lusa.

As autoridades portuguesas estimam que residam no Reino Unido cerca de meio milhão de portugueses.