Numa altura em que o Reino Unido está dividido entre a campanha do sim e do não à permanência do país na União Europeia, e depois de ter sido abalado pela morte a tiro da deputada trabalhista Jo Cox, conservadores e trabalhistas quiseram mostrar o país unido. Com a campanha do referendo suspensa, o primeiro-ministro, David Cameron, e Jeremy Corbyn, líder da oposição trabalhista, estiveram lado a lado a defender valores democráticos num tributo à deputada assassinada esta quinta-feira.

Após depositarem um ramo de flores em Birstall, no norte de Inglaterra, Cameron pediu “esforços redobrados” para defender os valores democráticos da “tolerância” e do “dever”, numa referência à atividade parlamentar que Cox promovia no círculo eleitoral que a elegeu quando foi atingida a tiro e apunhalada por um suspeito, que se encontra detido.

Corbyn considerou o assassinato de Cox um “ataque à democracia” e informou que o Parlamento será convocado na segunda-feira para prestar homenagem à deputada do Labour (partido trabalhista). “O Parlamento será convocado na segunda-feira para que possamos prestar-lhe o devido tributo em nome de todos neste país que defendem a democracia, o direito à liberdade de expressão, às opiniões políticas, e livres da brutalidade que Jo sofreu”, disse Corbyn.

Os dois políticos compareceram juntos em Birstall na sequência da suspensão da campanha para o referendo da próxima quinta-feira sobre a permanência ou saída do país na União Europeia, assinalado por debates muito agressivos e acusações mútuas entre os apoiantes da manutenção no espaço europeu, onde se incluía a deputada assassinada, e os que defendem a saída (Brexit).

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O chefe do governo e líder dos Tories (conservadores) pediu que o “ódio” e as “divisões” sejam eliminados da política e da vida nacional. “Se realmente queremos honrar Jo, então o que deveríamos fazer seria reconhecer que os seus valores de dever, comunidade e tolerância são valores que necessitamos para redobrar a nossa vida nacional nos próximos meses e anos”, acrescentou Cameron.

Na sua intervenção, o líder trabalhista afirmou que Cox, 41 anos, foi “brutalmente assassinada” na sua localidade “onde foi criada e onde serviu a comunidade”. Corbyn recordou o envolvimento da deputada nas campanhas contra a escravatura e para a organização humanitária Oxfam, em defesa dos direitos humanos e da justiça em todo o mundo.

“Tiraram-lhe a vida num ato de ódio, um ato vil assassinou-a. Isto é um ataque à democracia”, acrescentou Corbyn, que definiu a deputada como uma mulher “excecional, maravilhosa e muito talentosa”. Na celebração em Birstall, marcada pela solenidade, também estiveram presentes o presidente da Câmara dos Comuns (Parlamento), John Bercow, e o porta-voz das relações exteriores dos trabalhistas, Hilary Benn.

A bandeira britânica está esta sexta-feira a meia haste no Palácio de Westminster, sede do Parlamento, num sinal de respeito e luto pela morte da política trabalhista, atingida a tiro numa rua de Birstall após um encontro com cidadãos no âmbito da sua atividade parlamentar. A polícia de West Yorkshire (norte de Inglaterra) referiu que está a interrogar o suspeito Tommy Mair, 52 anos, detido no local do ataque e acusado de atingir Cox com vários tiros, antes de a esfaquear quando já se encontrava no chão.

Já esta sexta-feira o partido de Cameron tinha anunciado que não iria contestar, “em sinal de respeito”, o assento parlamentar deixado vago por Jo Cox, baleada esta quinta-feira na sequência das suas convicções a favor da permanência do Reino Unido na União Europeia.