Hong Kong regista esta sexta-feira várias manifestações na sequência das declarações de quinta-feira do livreiro Lam Wing-kee, “desaparecido” durante meses, que revelou detalhes sobre a sua detenção na China e garantiu ter feito uma confissão forçada na televisão.

Cerca de quarenta manifestantes do novo partido Demosisto concentraram-se esta sexta-feira em frente ao Gabinete de Ligação da China em Hong Kong. “Defendam as liberdades de Hong Kong”, gritaram os manifestantes.

“Esperamos que o mundo faça pressão sobre o Governo para a libertação de todos os livreiros”, disse Nathan Law, um dos organizadores da manifestação, ao lado do jovem Joshua Wong, rosto dos protestos pró-democracia em 2014.

Para o líder estudantil, Lam é um herói: “Lam Wing-kee é um modelo para o povo de Hong Kong. Ele afronta a opressão do regime comunista”, afirmou. Nathan Law disse que é importante mostrar que a sociedade de Hong Kong não vai permitir que tais situações aconteçam.

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Antes da manifestação do Demosisto, um grupo de pessoas levou uma caixa com vermes até ao Gabinete de Ligação da China. Lai Kwong-wai, da Association for Democracy and People’s Livelihood (ADPL), disse que os vermes simbolizavam as forças de segurança – que o livreiro acusou de o terem sequestrado – antes de os pisar. Outras manifestações estão previstas para o dia desta sexta-feira.

Lam Wing-kee disse numa conferência de imprensa, na quinta-feira, que foi raptado na cidade de Shenzhen, junto a Hong Kong, e que esteve preso durante oito meses por “uma equipa especial” das forças chinesas no interior da China.

“Eu fui sequestrado por uma ‘equipa de investigação central’ secreta, que reporta aos principais líderes do Partido Comunista”, disse Lam Win, citado pelo jornal South China Morning Post.

Lam Wing-kee é um dos cinco livreiros com atividade em Hong Kong que desapareceram no final de 2015. Um deles desapareceu quando estava em Hong Kong, três desapareceram quando se encontravam no interior da China e outro na Tailândia.

Os cinco livreiros trabalhavam para a Mighty Current, uma editora de livros sobre a vida privada de dirigentes chineses e intrigas políticas na cúpula do poder, proibidos na China continental.

Todos os livreiros reapareceram na China, sob tutela das autoridades de Pequim.

Quatro foram libertados e regressaram a Hong Kong, mas este foi o único a desafiar Pequim e a contar o que aconteceu.

Os restantes voltaram à China depois de terem pedido à polícia de Hong Kong para deixar cair a investigação relativa ao seu caso.

Lam Wing-kee pediu o mesmo na quarta-feira, mas depois mudou de ideias. O livreiro devia partir novamente para a China na quinta-feira, mas decidiu ficar em Hong Kong para contar a sua história numa conferência de imprensa, desafiando as autoridades chinesas.

O livreiro contou como foi detido durante uma visita ao interior da China e interrogado durante meses, sem acesso a um advogado ou à família.

Uma antiga colónia britânica, Hong Kong foi devolvida à República Popular da China em 1997, sob a fórmula “um país, dois sistemas”, que promete manter os sistemas sociais e económicos da cidade durante 50 anos, detendo o estatuto de Região Administrativa Especial.

Depois da conferência de imprensa de quinta-feira, a Amnistia Internacional (AI) enviou um comunicado ao Governo chinês em que exige que “admita a verdade”.

Segundo a diretora da AI-Hong Kong, Lam comunicou “o que muitos suspeitavam há tempos: que esta foi uma operação orquestrada pelas autoridades chinesas”.

“Parece claro que ele, e provavelmente os outros, foram detidos arbitrariamente, maltratados e obrigados a confessar”, afirmou.