Era só o que faltava, não diz, mas sugere Fernando Santos. Já lhe fizeram algumas perguntas e às tantas chega uma que, indiretamente, vai buscar os últimos segundos do jogo contra a Islândia. O momento em que Cristiano Ronaldo teve dois livres diretos seguidos à entrada da área, o segundo mais ou menos do mesmo sítio de onde Raphaël Guerreiro tinha enfiado a bola na gaveta contra a Estónia. “Só falta mandar uma carta ao meu colega selecionador da Áustria a dizer que quem vai marcar os cantos e os livres é o Manel, António, Joaquim…”, brinca o selecionador, enquanto se ri e provoca risos na sala de imprensa do Parque dos Príncipes, em Paris, esta sexta-feira.

Fernando Santos está ali para antecipar o Portugal-Áustria, mas estas alturas são as únicas em que dezenas de jornalistas lhe podem fazer perguntas. Por isso, como sempre, elas fogem ao tema suposto. Questionam-no por Ronaldo, uma e outra vez e mais uma quantas a seguir. “O Ronaldo é o melhor jogador do mundo, o que querem que diga mais? Qual pensam que é a relevância do Ronaldo? Eu percebo e respeito as vossas perguntas. Mas o Ronaldo é o melhor do mundo e isto chega para perceber a importância”, desabafa, às tantas.

Antes, diz que vê “com muito cuidado os jogos do Real Madrid”, é a base na qual fomenta a opinião de que Ronaldo tem liberdade para, lá à frente no campo, se mexer como e por onde quiser. “Nunca pode ser um avançado centro. O Cristiano, hoje em dia, é cada vez mais um jogador livre, como tem de ser”, resume. Livre para jogar e para dizer o que lhe apetecer, como disse após o empate com a Islândia, em que criticou a postura dos nórdicos no jogo.

Perguntam-lhe se isso demonstrou falta de fair-play. Ele responde: “Às vezes fico com vontade de rir. Na minha terra, costuma-se dizer que ‘quem não sente não é filho de boa gente’. Depois das declarações do treinador da Islândia e de alguns jogadores, cujos adeptos passaram os 90 minutos a assobiar o Pepe e o Ronaldo, em que até o banco incentivou o Pepe. Muitas vezes as respostas que se dão são aquelas que na altura apetece dar.” Ok, entendido. Findas estas quezílias de polémicas, diz que disse e responde ao que os outros disseram, é tempo de falar do que interessa, que é a Áustria.

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E a Áustria?

E os austríacos, explica Fernando Santos, não têm nada a ver com os islandeses, que se retraíram ainda mais quando marcaram o golo e não quiseram atacar, assumir e ter a bola, como vão querer David Alaba e companhia. “É uma equipa que gosta de ter a bola no pé, gosta de jogar, tem boas dinâmicas ofensivas, gosta de ter a iniciativa do jogo. O primeiro objetivo é ganhar, portanto, compete-nos assumir o jogo, mas sempre equilibrados. Porque a outra equipa é muito rápida no contra-ataque e com jogadores com grande dinâmica no ataque. Ambas as equipas vão querer ganhar, mas não são malucas, não vai ser um jogo à balda”, garante o selecionador, que não se fica por aqui nas explicações.

Não acredita que os austríacos — que têm David Alaba a mandar na bola, Christian Fuchs (campeão inglês pelo Leicester) a correr pela esquerda e Marko Arnautovic a driblar e atrair atenções — alguma vez se vão pôr no jogo como fizeram os islandeses. “A Áustria nunca colocará 10 jogadores no último terço do campo, a defender. A Islândia, a partir do momento em que fez o golo, manteve os 10 atrás da linha da bola. E nós tínhamos que empurrar os 10, é difícil. Logo por aqui será um jogo completamente diferente, não acredito que façam isto muitas vezes. Vai ser um jogo aberto, com jogadores de grande qualidade, que vão tentar jogar um futebol positivo. Não vamos ter 70% de posse de bola, vai ser mais repartido, creio que até com muitas transições, é o que me parece”, defende.

Isto quanto a eles. Quanto a nós, Fernando Santos lembra que “revolução foi em 74” para avisar que não haverá mexidas por aí além na equipa. “Não faria sentido que houvesse. Mas já disse que o jogo é diferente, adversários diferentes, e que por essa questão, aliada ao que tem acontecido a todas as equipas neste Europeu, talvez façamos alterações pontuais. Todas as equipas refrescaram um pouco, jogamos de três em três dias, é normal. É isso que vai acontecer”, garantiu. Será que vem aí Renato Sanches? Ou talvez Quaresma? Talvez. Certo é que terá de haver “liberdade total para todos os que jogam na frente para, na realidade, fazerem ruturas e atraírem adversários”. Se não, avisa Fernando Santos, “vamo-nos dar à marcação”. E, além dos austríacos, ninguém quererá isso.