Não são sete cães a um osso, é pior. Na zona mista de um estádio do Europeu, neste caso o Stade de France, são dezenas e dezenas de jornalistas a encavalitarem-se nas grades que forçam curvas no caminho por onde, no máximo, passam uns 46 jogadores (os 23 convocados de cada equipa). Até nem é mau, dá um para todos, se as contas se fizessem assim. Não se fazem porque há pouco jogou-se um Alemanha-Polónia, ou seja, não há assim tantos que falem inglês ou que estejam dispostos a conversá-lo quando, ao lado, há alguém a falar a língua deles. Nota-se na cara de Marc-André Ter Stegen que não lhe apetece muito, mas o meu alemão não está nada famoso. Ele lá aceita.

Acabou de empatar sem golos com os polacos e não saiu do banco. Para variar, infelizmente para ele, porque à frente tem Manuel Neuer, o gigante e capitão germânico que torna injusto para qualquer um disputar a baliza da seleção. Ter Stegen, que é o guarda-redes titular do Barcelona quando os catalães jogam na Liga dos Campeões, já se conformou e sabe que, aos 22 anos, ainda tem de esperar — “Não há grande coisa a dizer sobre ele, é o melhor guarda-redes do mundo neste momento”. O que este alemão de 22 anos também esperava era que Portugal tivesse vencido a Islândia no primeiro jogo da fase de grupos.

Olá Marc. Podemos falar, em inglês?
[Ele faz cara torcida, olha bem para mim antes de responder] Hmmm, ok, pode ser.

A Alemanha não marcou e nunca esteve muito perto de o fazer. O que aconteceu?
Foi um jogo muito difícil, como são todos os jogos num Europeu. O jogo esteve sempre muito igualado, portanto acho que o resultado é justo, fica bem. Agora temos o último jogo, queremos ganhá-lo e dar o nosso melhor para acabarmos em primeiro no grupo.

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Não se assustaram quando os polacos apareceram à frente do Neuer?
Tiveram duas grandes oportunidades. Estiveram muito perto de marcar, sim, mas também tivemos uma, talvez duas jogadas, em que podíamos ter feito mais. Mas o resultado foi bom para as duas equipas. Agora temos que olhar para o que aí vem.

Mas no ataque não criaram grandes jogadas, faltou ali qualquer coisa. O que foi?
É difícil de dizer em concreto, logo após o jogo. Mas tenho que dizer que temos de criar mais oportunidades, há sempre coisas a melhorar. Prefiro dizer que queremos ganhar o último jogo para, espero, acabarmos em primeiro no grupo.
(Nesta altura, há que escrevê-lo, Shkodran Mustafi, central do Valência que foi titular no primeiro jogo da Alemanha, passa por trás de Ter Stegen e, ao perceber que o guarda-redes está a falar inglês, aproxima-se pelas costas, faz cara de gozo misturado com surpresa, acena e diz “Oh, yes, please”. Ri-se e vai-se embora. Teve piada.)

Sou português. Nos dois últimos Europeus a Alemanha defrontou Portugal e vocês ganharam sempre. Achas que se vão encontrar de novo?
Não sei. Mas acho que é das melhores equipas no Europeu e claro que queremos sempre jogar contra os melhores. Isso significa que conseguimos ir longe. Ainda estamos no grupo, o objetivo agora é acabarmos em primeiro para isso nos ajudar no passo seguinte, para jogarmos contra uma equipa, em teoria, mais fácil. Mas nunca sabemos o que vem aí. Mas quero ser primeiro, just in case.

Viste o jogo de Portugal contra a Islândia?
Não. Só vi um pouco da Espanha e vi o jogo da Itália. Mas pensei que Portugal fosse vencer.

BARCELONA, SPAIN - APRIL 17: Marc-Andre Ter Stegen of FC Barcelona looks on from the bench during the La Liga match between FC Barcelona and Valencia CF at Camp Nou on April 17, 2016 in Barcelona, Spain. (Photo by David Ramos/Getty Images)

Foto: David Ramos/Getty Images

Têm tido muito tempo para ver outros jogos?
Yeah, depende. Às vezes só vemos partes, porque temos treinos na parte da tarde. Mas normalmente conseguimos, para nós é sempre bom ver o que os potenciais adversários estão a fazer. A França venceu os dois jogos, apesar de o fazerem tarde, mas ganharam. É bom vê-los.

Qual foi o teu jogo preferido até agora, fora os da Alemanha?
Hmmm, acho que foi o jogo da Bélgica contra a Itália.

Porquê?
Pelos nomes. Foi interessante ver como os italianos se portaram quando os belgas os atacavam, como se movimentavam em campo.

Foi à italiana?
Exato. Estão a jogar como sempre, nada de novo.

Com tantos nomes, surpreendeu-te a derrota da Bélgica?
Sinceramente, não. É mesmo difícil jogar contra a Itália [o guarda-redes defrontou-os num particular antes do Europeu]. Vão estar focados na defesa, mas conseguem sempre criar oportunidades para te marcarem um golo, de certeza. A Bélgica tem uma boa equipa e talvez nos encontremos com eles mais tarde na competição.
(Do nada aparece um jornalista irlandês, de telemóvel em punho, que se encosta a mim e faz apenas esta pergunta:)

Hoje, a Irlanda do Norte ganhou à Ucrânia e isso é a principal notícia no país. Foi a maior surpresa até agora, certo?
Eu sei, imagino. Eles lutaram até ao fim e até criaram aquela oportunidade no fim. Fizeram uma boa partida, jogaram sempre com cabeça, via-se que queriam muito ganhar. Tiveram a mentalidade certa. Vai ser divertido jogar contra eles na terceira jornada.

Quando olham para a Islândia ou a Irlanda do Norte, por causa da história destas seleções, vocês torcem por eles se não se forem defrontar?
Não, não, não, só torcemos por nós próprios. Mas vamos vendo os jogos todos e olhando para os resultados e claro que não esperávamos que eles ganhassem.

Como é ter o Manuel Neuer à frente na baliza? Desesperante, não?
É um grande guarda-redes, o melhor do mundo neste momento. Não há grande coisa a dizer sobre ele. Tem uma técnica perfeita como guarda-redes, é bom com os pés… Sim, é complicado batê-lo.

O que é um problema para ti, porque fica difícil jogares.
Claro. Mas ele tem jogado bem e merece-o pelas últimas épocas e pelo Mundial. Não há dúvidas quanto a isso. Para mim é importante estar aqui pela equipa, estar a um bom nível nos treinos e que toda a gente veja que, atrás do “Manu”, está tudo bem.

Ele ensina-te muitas coisas ou és tu que aprendes por estares perto dele?
Já nos conhecemos há uns seis anos, desde que jogava na Bundesliga. Aí falávamos bastante. Hoje em dia discutimos mais estratégias e essas coisas quando estamos na seleção.