Escócia e Irlanda do Norte são as nações do Reino Unido mais euro-entusiásticas, mas os votos escoceses e irlandeses no referendo de quinta-feira poderão ser insuficientes para garantir a permanência do Reino Unido na União Europeia.

A generalidade das sondagens indica que a maioria dos eleitores do norte do país é contra a saída do grupo dos 28, por vezes com uma vantagem de 30% (sem contar com os indecisos).

Na Escócia, esta opinião é quase unânime entre os políticos: numa votação no final de maio, só nove dos 129 deputados dos cinco partidos representados no parlamento regional votaram a favor da saída britânica da UE, a chamada ‘Brexit’.

Além deste consenso político, os estudos de opinião sugerem que os escoceses são mais abertos aos imigrantes e menos incomodados pela influência de Bruxelas.

Na Irlanda do Norte, o tema divide o sistema partidário e a população, onde os católicos republicanos são mais eurófilos do que os unionistas protestantes.

Ainda assim, há um grande apoio à permanência na UE pois a região tem recebido nas últimas décadas milhões de euros para consolidar o processo de paz e desenvolver a economia, nomeadamente a agricultura.

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Além disso, existe a consciência de que uma saída da UE poderia afetar as relações com o país vizinho, a República da Irlanda, com o qual as relações são muito próximas, incluindo uma fronteira aberta atravessada diariamente por trabalhadores ou estudantes.

A realidade de uma ‘Brexit’ pode ser determinada pelo resto do país, nomeadamente pela Inglaterra, que representa 85% do eleitorado do Reino Unido e onde a desconfiança relativamente à UE tem crescido nos últimos anos, sobretudo nas regiões do centro e leste, refletida por um maior apoio à saída registado nas sondagens.

Na base deste sentimento está uma forte componente identitária em resposta ao crescimento da imigração e onde a influência de grandes figuras a favor da saída, nomeadamente o Conservador Boris Johnson, ex-presidente da câmara de Londres, e o líder do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), Nigel Farage, pode ser mais sentida.

O fiel da balança poderá ser o País de Gales, que tradicionalmente também era pró-europeu, mas que nos últimos anos viu crescer o euroceticismo e nas eleições de maio elegeu para a assembleia regional, pela primeira vez, dois deputados do UKIP.

Apesar de ter beneficiado muito de fundos comunitários, o País de Gales tem tido dificuldade em afirmar-se economicamente e o recente declínio da indústria siderúrgica, com a consequente ameaça de milhares de despedimentos, agravou o sentimento de descontentamento com os partidos tradicionais.

No caso de o referendo de quinta-feira sobre a permanência do país na UE ditar a saída, a diferença de resultados nas quatro nações do Reino Unido poderá de novo reacender o debate sobre a soberania da Escócia e a repetição de um debate sobre a sua independência.