A injeção de divisas pelo Banco Nacional de Angola (BNA) na banca comercial caiu quase 75% na última semana, para 56 milhões de euros, com vendas apenas em moeda europeia.

A informação consta do relatório semanal do BNA sobre a evolução dos mercados monetário e cambial, no período entre 13 a 17 de junho, e contrasta com os 218,4 milhões de euros da semana anterior.

De acordo com o documento, consultado pela Lusa, as divisas disponibilizadas na última semana, equivalentes a 62,6 milhões de dólares, destinaram-se apenas a cobrir “operações diversas”.

A taxa de câmbio média de referência de venda do mercado cambial primário, apurada ao final da última semana, permaneceu inalterada nos 166,710 kwanzas por cada dólar e de 186,264 kwanzas por cada euro.

Contudo, no mercado de rua, a única alternativa, embora ilegal, à falta de divisas aos balcões dos bancos, a nota de um dólar continua a ser transacionada entre os 500 e os 600 kwanzas.

Angola enfrenta uma crise financeira e económica com a forte quebra (50%) das receitas com a exportação de petróleo devido à redução da cotação internacional do barril de crude, tendo em curso várias medidas de austeridade.

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A conjuntura nacional levou a uma forte quebra na entrada de divisas no país e a limitações no acesso a moeda estrangeira aos balcões dos bancos, dificultando as importações.

A falta de divisas, em função da procura, dificulta, por exemplo, a transferência de salários dos trabalhadores de expatriados, as necessidades dos cidadãos que precisam de fazer transferências para o pagamento de serviços médicos ou de educação no exterior do país ou que viajam para o estrangeiro.

A preocupação com as consequências da situação atual foi enfatizada na terça-feira passada pelo chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) que esteve em Luanda a conduzir negociações, ainda não concluídas, para um programa de assistência solicitada pelo Governo angolano.

Só desde setembro de 2014, a moeda nacional angolana desvalorizou-se, recordou Ricardo Velloso, em mais de 40%, face ao dólar norte-americano, para 166 kwanzas para um dólar, à taxa oficial, muito longe dos valores do mercado paralelo.

“Não olhamos a taxa de câmbio no mercado paralelo como uma indicação do que deve ser a taxa de câmbio oficial, ainda há muita especulação e pressão pontual nesse mercado, que é muito limitado. Mas há espaço, do ponto de vista da taxa oficial, para mais ação por parte do Banco Nacional de Angola [BNA], para diminuir a pressão que existe”, apontou o economista brasileiro.

Admitiu igualmente que as “restrições administrativas existentes para aceder a divisas à taxa oficial”, tendo em conta que os bancos não disponibilizam e os leilões do BNA são reduzidos face à procura, “constituem um constrangimento à atividade e diversificação económicas” e “precisarão de ser levantadas gradualmente”.

“A nossa recomendação também é que o BNA use um pouco mais das suas reservas internacionais para diminuir a pressão que existe a curto prazo”, apontou Velloso.

As Reservas Internacionais Líquidas (RIL) angolanas – moeda estrangeira que permite nomeadamente a aquisição ao exterior de matéria-prima para as indústrias e produtos alimentares – caíram cerca de seis mil milhões de euros desde 2014, cifrando-se em maio nos 24.408 milhões de dólares (21,6 mil milhões de euros).