Há uma pergunta que o faz abanar a cabeça, cerrar um rosto já por si cerrado, virar carrancudo. O que ouve mexe com ele. No segundo em que o jornalista fecha a questão, Fernando Santos arranca com a resposta, decidido. É sobre a promessa que fez há dias, quando Portugal não conseguiu ganhar ou marcar golos à Áustria e obrigou-se a ter que ganhar na quarta-feira, aos húngaros. “Como consigo prometer? Porque acredito nos meus jogadores. É muito fácil de responder. Porque não hei de acreditar? Agora passamos de otimistas para pessimistas? Quando fez dos melhores jogos que vi neste Europeu?”, questiona de volta.

Parece estar indignado, revoltado quase. A resposta que dá enche-se de perguntas para o ar, das retóricas, que transbordam querer e confiança, para acabar assim: “Tenho um grupo de trabalho fantástico, exemplares em tudo, têm qualidade, empenho total. Não faria sentido se não acreditasse. Por isso continuo a acreditar e hei de lá chegar”. O selecionador nacional está seguro que apenas volta para casa a 11 de julho, dia seguinte à final do Europeu. Só ainda não sabe é como o vai conseguir.

Para já, necessita de uma vitória contra a Hungria, aqui em Lyon, para garantir que segue para os oitavos-de-final. A bater o pé entre ele e esse objetivo estará uma equipa que não acredita que jogará fechada. “É verdade que só depende dela própria, pode até estar apurada [ficou com essa garantia, minutos depois] quando o jogo se realizar, mas as equipas têm a sua forma de jogar, não podem, de um dia para o outro, mudar. É uma equipa que trabalha muito, tem jogadores de qualidade e são coletivamente muito fortes. Assumiu a característica das equipas húngaras, gosta de ter bola e de sair a jogar”, explica, na conferência de imprensa anterior à partida.

A Hungria já está qualificada antes de a bola começar a rolar — será, de certeza, um dos melhores terceiros lugares, se tiver que ser –, mas nem assim Fernando Santos acha que vai ter um adversário a fechar-se como islandeses (sobretudo) e austríacos o fizeram. Por isso, também não vai mudar nada na forma de a equipa jogar. “Há praticamente dois anos que jogamos segundo determinado padrão, que tem algumas variações. Temos vindo sempre a evoluir num 4-4-2, não vamos fazer grandes alterações. Não se muda a agulha de um dia para o outro, teríamos de treinar 24 horas por dia e os jogadores ficavam completamente passados”, defende, alongando-se nas respostas, para nosso bem.

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Há o problema dos golos, claro. A seleção apenas marcou um, apesar de já ter rematado 50 vezes e de ter acertado 18 bolas na baliza. “Acho que Portugal fez um jogo razoável-bom e um bom, a única pecha foi não conseguirmos finalizar as várias oportunidades de golo. O futebol não passa por varinhas mágicas, que se faz assim e se tira um coelho da cartola. O jogo é o reflexo do que treinamos. Não é por tirar o A, o B ou o C e as coisas funcionam. Tomara eu. A finalização é um trabalho que fazemos sempre, em qualquer treino. O processo ofensivo só é concluído quando se trabalha finalização”, analisou, sem mostrar as cartas que tem na manga e no pensamento.

Porque há o risco de Raphaël Guerreiro e André Gomes não jogarem, devido aos músculos que os chateiam. Esta terça-feira treinaram a meio-gás e nem Fernando Santos sabe o que esperar — “Não tenho certezas, não posso garantir, digo isto com toda a sinceridade”. Quem jogará com certeza é Cristiano Ronaldo, o capitão e alvo de éne e demasiadas perguntas dos jornalistas que estão na sala, que insistem em fazê-lo o centro das atenções. “Quando temos alguém que, nos últimos anos, é o porta-estandarte deste país, acho que é um bocadinho como a Amália, para que é que vamos falar dele?”, opinou o selecionador, antes de garantir que sim, Ronaldo “vai continuar a bater penáltis e livres”.

Ao que parece, dizem depois na sala de imprensa e nas contas que se fazem, que Portugal precisa apenas de empatar com golos para se qualificar como um dos melhores terceiros lugares. Fernando Santos ainda não sabe isto quando garante que não treme com este jogo: “Já não tenho idade para ter pressões”. Nem colocou os jogadores a rematarem mais vezes à baliza ou a fazerem exercícios devido à falta de pontaria e de golos nos jogos. Porque isto não é magia, repetiu. “Isso passa por trabalho mental. Não há nenhuma varinha mágica. É dizer-lhes que, se continuarmos a evoluir, todos acreditamos que vamos concretizar algumas. No futebol não há sorte e azar. Se em vez de bater no poste duas vezes, puder entrar, ficamos todos contentes”, resumiu.

Que fale bem e muito com os jogadores, então.