Os jovens recrutas do exército australiano foram obrigados ao longo de anos a sofrer ou a cometer violações, frequentemente com outras práticas violentas, revelou uma comissão de investigação.

A comissão de investigação real australiana começou esta terça-feira as audições públicas sobre o caso das Forças de Defesa Australianas (ADF, na sigla em inglês), como resposta institucional aos abusos sexuais cometidos contra os jovens e depois de ter investigado os abusos cometidos em organizações religiosas, escolas e serviços sociais.

A comissão vai debruçar-se principalmente sobre dois centros de formação em serviço entre os anos 1960 e 1980: o HMAS Leeuwin, na Austrália Ocidental, onde se formaram os recrutas da marinha, e uma escola militar em Balcome, do estado de Vitória.

Segundo o advogado Angus Stewart, a comissão foi contactada por 111 pessoas sobre o assunto dos abusos cometido sobre os menores no seio da ADF, das quais cerca de metade são de Leeuwin e de Balcombe.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“A comissão real ouvirá que a maior parte dos abusos foram cometidos por recrutas mais velhos (…) sobre os recrutas mais novos, no quadro de práticas destinadas a submeter e humilhar os recém-chegados”, disse.

Entre esses abusos, o advogado deu alguns exemplos, citando que cobriam as partes genitais dos mais novos com cera de depilação ou pasta de dentes, que lhes prendiam as partes genitais no banho ou forçavam-nos a pôr a cabeça em sanitas sujas.

“Os sobreviventes disseram que foram sujeitos a formas graves de abusos sexuais, incluindo toques, sexo oral ou relações anais ativas e passivas durante os seis primeiros meses em Leewin”, continuou Angus Stewart.

As vítimas raramente se atrevem a denunciar os abusos, acrescentou. Aqueles que o fazem deparam-se com descrença, ao dizerem-lhes que se tratava de um “ritual de passagem”.

CJA — que tinha 16 anos no momento desses abusos, em 1967 – vai explicar de que forma as suas queixas não deram em nada e como é que ele foi considerado como uma fonte de problemas, acrescentou o advogado.

A comissão de investigação vai também examinar a situação com a instituição de cadetes do exército a partir do ano de 2000.

Nestes últimos cinco anos, o exército australiano foi objeto de duas investigações por abuso, na sequência de queixas datadas dos anos 1940. As ADF fizeram, desde então, uma série de reformas.