O Reino Unido só deve ativar o artigo 50 para deixar a União Europeia quando tiver uma “visão clara” do seu futuro, afirmou esta segunda-feira o ministro das Finanças britânico, na sequência do referendo que deu vitória ao Brexit.

“Só o Reino Unido pode ativar o artigo 50 [do Tratado de Lisboa sobre a saída de um país-membro]. Na minha avaliação, devemos apenas fazê-lo quando houver uma visão clara sobre os novos acordos que procuramos [estabelecer] com os nossos vizinhos europeus”, disse George Osborne, nos seus primeiros comentários públicos desde o resultado do referendo da passada quinta-feira.

“O primeiro-ministro deu-nos tempo como país para decidir que tipo de relação deve ser essa ao adiar a decisão de ativar o procedimento do artigo 50 até que haja um novo primeiro-ministro pelo outono”, afirmou.

“No entretanto, e durante as negociações que se seguirão, não vai haver mudança nos direitos das pessoas de viajar e trabalhar, e na forma como as nossas mercadorias e bens são comercializados, ou na forma como o nosso sistema económico e financeiro é regulado”, frisou George Osborne.

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O ministro sublinhou que, na quinta-feira, o povo do Reino Unido votou pela saída da União Europeia, um resultado que não era o que queria, nem aquele pelo qual lutou durante a campanha. “Agora as pessoas pronunciaram-se e nós, nesta democracia, temos de aceitar o resultado”, concluiu.

A economia está “forte”

George Osborne afirmou também que o Reino Unido está numa “posição forte” para enfrentar os desafios do Brexit. Numa declaração anterior à abertura das Bolsas, o ministro admitiu que “é inevitável” que a economia se ajuste à nova situação, mas que ela é “fundamentalmente forte”.

O ministro aproveitou, assim, para enviar uma mensagem aos empresários, afirmando que a economia “está aberta aos negócios”.

Osborne sublinhou que o Reino Unido está “equipado” para enfrentar as dificuldades face ao Brexit e que as medidas de ajustamento tomadas pelo Governo nos últimos anos permitiram que a economia seja hoje “forte” e “estável”. “Eu tinha dito que tínhamos que reparar o telhado a fim de estarmos preparados para o que pudesse suceder no futuro e, por sorte, fizemo-lo”, explicou, ao referir-se às medidas de austeridade adotadas após a mais recente crise global.

Relativamente aos passos a seguir no quadro das negociações sobre a saída, o ministro considerou “sensato” esperar que se designe o novo primeiro-ministro, após a decisão tomada, na passada sexta-feira, por David Cameron, de se demitir em outubro.

Também explicou que falou com o governador do Banco de Inglaterra, Mark Carney, e que existem “planos de contingência” para responder a eventualidades que possam surgir no plano económico.

Osborne informou ainda que esteve em contacto, no fim de semana, com ministros das Finanças de outros países e com organizações económicas internacionais, incluindo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Acrescentou que espera contar com uma participação “ativa” no debate sobre as negociações da saída britânica do bloco europeu. “Não será fácil nos próximos dias, mas deixem-me ser claro. Não devemos subestimar a nossa resolução” em tomar medidas, acrescentou. “Estávamos preparados para o inesperado”, insistiu Osborne, ao sublinhar que o sistema financeiro britânico ajudará o país a enfrentar “qualquer choque”. Esta intervenção é vista como uma tentativa para evitar o nervosismo dos mercados no arranque da semana.