O presidente do Banco Central Europeu pediu esta terça-feira mais coordenação entre os bancos centrais para evitar que as medidas que têm sido tomadas em alguns países pelos seus bancos centrais tenham impacto negativo noutros países mais vulneráveis, algo que terá acontecido especialmente durante o período de crise.

Globalização: uma bênção e uma maldição para os bancos centrais. Num período de intensa atividade para os guardiões da estabilidade financeira, como têm sido os anos desde a crise financeira, foram muitas as medidas que os bancos centrais tomaram para cumprir o seu mandato de manter a inflação a crescer a um ritmo estável e reduzir os riscos para a estabilidade financeira.

Na opinião de Mario Draghi, que abriu esta terça-feira o Fórum do BCE em Sintra, os bancos centrais agiram de forma apropriada para responder aos desafios domésticos, que é o que prevê o seu mandato. O problema terá sido não as medidas tomadas, mas a intensidade com que foram tomadas medidas, que acabou por criar instabilidade na taxa de câmbio entre as principais moedas e pressões sobre as economias emergentes.

“Nos últimos anos, os bancos centrais nas economias avançadas têm desempenhado a mesma tarefa, nomeadamente aumentar a inflação e as expetativas de inflação para níveis consistentes com a estabilidade de preços. Cada um enfrentou condições particulares dentro das suas próprias jurisdições. Cada um tomou as medidas apropriadas ao seu contexto. E cada um atuou para cumprir o mandato definido na sua constituição. E ainda assim, o facto de os bancos centrais enfrentarem um desafio comum de baixa inflação não é coincidência. Existem fatores globais em jogo. E isso coloca a questão, de qual a melhor forma de lidarmos com eles?”, afirmou o presidente do BCE.

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Numa altura em que as medidas tomadas num país têm cada vez mais impacto nos seus vizinhos, o presidente do BCE defendeu a coordenação entre os vários países. Essa coordenação não seria formal, algo que seria muito complexo devido aos mandatos dos bancos centrais e à responsabilidade para com os parlamentos de cada país. Ainda assim, diz Draghi, “isto não quer dizer que não possamos chegar a uma solução global melhor que a que temos hoje”.

A solução, defende Mario Draghi, passa por os bancos centrais pensarem no efeito que as suas medidas têm fora de portas e coordenarem-se, ainda que informalmente, para que os efeitos das medidas que tomam sejam maximizados em termos globais.

“Temos de pensar não apenas na composição das medidas dentro das nossas jurisdições, mas na composição global que pode maximizar os efeitos da política monetária de forma a que os nossos respetivos mandatos podem ser cumpridos sem sobrecarregar ainda mais a política monetária, e para limitar um eventual contágio com efeito desestabilizador”, disse ainda.

O presidente do BCE tem defendido insistentemente com os países da zona euro, por exemplo, que a política monetária não é a solução para todos os problemas e que o leque de opções começa a ficar esgotada e que, como tal, os países do euro têm de fazer reformas estruturais para aumentar o seu potencial de crescimento e de controlar as suas contas públicas.

O caminho defendido pelo BCE passa também pelo cumprimento das regras orçamentais europeias, que tantas dores de cabeça têm dado a Portugal e Espanha nos últimos meses, devido à ameaça pendente de sanções pela violação das metas do défice que a Comissão Europeia tem discutido e cuja decisão será conhecida no início de julho.