O Governo de Portugal sublinhou esta terça-feira a importância de valorizar as comunidades lusófonas em países onde o português não é língua oficial, considerando que todas as variedades do idioma têm “igual valor”.

“Por estarmos profundamente convencidos da relevância deste património global apoiámos na nova visão estratégica [da Comunidade de Países de Língua Portuguesa — CPLP] a valorização das comunidades lusófonas em países terceiros, tanto as resultantes de diásporas oriundas do espaço da CPLP, como as comunidades noutros países ou regiões que preservam a influência da língua portuguesa e partilham laços connosco”, considerou o ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE), Augusto Santos Silva, numa mensagem que enviou à primeira conferência das comunidades luso-asiáticas, que arrancou hoje em Malaca, na Malásia.

No entender do ministro, “reunir em Malaca as comunidades luso-asiáticas” é “uma decisão que vem ao encontro desta nova visão”.

“Estou certo de que iniciativas como esta nos permitirão potenciar a promoção da nossa língua comum, em todas as suas variedades, tidas de igual valor”, acrescentou, numa mensagem que foi lida aos participantes na conferência pelo embaixador português na Tailândia e designado para a Malásia, Francisco Vaz Patto.

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Augusto Santos Silva lembrou que a CPLP cumpre 20 anos em 2016 e “e tem vindo a desenhar uma nova visão estratégica”, pensando nas transformações ocorridas nos últimos anos e com o objetivo de adotar “os meios necessários para melhor enfrentar os desafios comuns”.

“Neste exercício, Portugal tem procurado vincar a importância de se abrir a CPLP ao exterior. O facto de partilharmos a mesma língua entre 261 milhões de falantes em todo o mundo situa-nos num contexto vivo e dinâmico que constitui a maior riqueza e a maior força da organização”, considerou.

O ministro destacou ainda “a relevância da participação, pela parte portuguesa” de dois embaixadores nesta conferência, “prova da importância que o MNE e o Governo português concedem a esta iniciativa”.

A primeira conferência das comunidades luso-asiáticas arrancou hoje em Malaca, no “Portuguese Settlement”, um bairro onde vive uma comunidade católica, “os portugueses de Malaca”, que mantém tradições de inspiração portuguesa e fala um crioulo que mistura o português antigo com palavras malaias.

São comunidades deste tipo, que estão espalhadas pela Ásia, que os organizadores da conferência dizem ser importante salvar. O objetivo da conferência é unir esforços e sensibilizar a CPLP, e em especial Portugal, para esta questão.

O ex-Presidente, ex-primeiro-ministro e atual ministro timorense Xanana Gusmão, presente na conferência, propôs, em declarações aos jornalistas, que estas comunidades sejam convidadas a participar na próxima conferência da CPLP sobre o futuro da língua portuguesa.

Xanana Gusmão considerou que não está em causa a quantidade de pessoas que integram estas comunidades, mas a valorização que fazem da sua história e da ligação que sentem a uma identidade que tem origem na lusofonia.

O líder histórico da resistência timorense deu como exemplo Timor-Leste, onde o português foi proibido durante os 24 anos da ocupação indonésia, mas que escolheu a língua portuguesa como idioma oficial.

As consequências da proibição da língua levarão duas gerações a recuperar, o tempo necessário para “melhorar” o português em Timor-Leste, disse ainda Xanana Gusmão, para vincar a importância de ajudar a preservar as comunidades lusófonas espalhadas pela Ásia.