A mãe que está em greve de fome por lhe ter sido retirada a tutela das filhas foi transportada de urgência para o Hospital de Cascais, depois de se ter sentido mal. A informação foi confirmada ao Observador pelo advogado da mulher de 34 anos.

Ana Vilma Maximiano está em greve de fome há 17 dias e tem estado a manifestar-se com dois cartazes junto a várias instituições púbicas. Já esteve em frente ao Palácio de Belém, à Assembleia da República, ao Conselho Superior de Magistratura e estava esta sexta-feira em frente ao Tribunal de Cascais.

O advogado Gameiro Fernandes recebeu esta tarde, por volta das 15h30, uma chamada de Ana Maximiano queixando-se de que “se estava a sentir muito mal, muito fraca”, sendo que “quase não conseguia falar”, descreve o advogado. “A Ana tem tido algumas pessoas com ela, para o caso de acontecer alguma coisa. Mas naquele momento estava sozinha e, assim que ela me ligou, eu optei por chamar o 112”, explica.

Assim foi. A ambulância acorreu ao tribunal onde foi decretada a sentença de entrega das duas filhas ao pai, condenado por violência doméstica contra a ex-companheira Ana Maximiano. A mulher está neste momento na triagem do hospital à espera.

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Há 17 dias sem comer, Ana Maximiano contou ao Observador que se tem alimentado de água com açúcar mascavado e reiterou que a greve de fome era para levar até ao fim — ou, pelo menos, até que a custódia das filhas lhe seja devolvida. Confrontado com a possibilidade de agora Ana desistir, Gameiro Fernandes é perentório: “Ela sempre disse que, mesmo que se sentisse mal, ia continuar com a greve de fome. Eu tentei transmitir-lhe algumas vezes que a greve de fome não seria uma boa solução do ponto de vista da saúde dela. Mas a decisão é dela”, sublinha.

Inquérito aberto a magistrada

A juíza Helena Leitão e a procuradora Margarida Pereira da Silva estão debaixo de fogo neste caso. Na segunda-feira, o advogado de Ana entregou uma queixa-crime contra as duas no Tribunal da Relação de Lisboa. O Conselho Superior do Ministério Público decidiu então abrir um inquérito disciplinar à magistrada.

Em causa está o facto de a juíza ter prolongado por mais seis meses a decisão de entregar a custódia das duas filhas ao pai, que foi condenado em março por violência doméstica agravada, por alguns episódios terem acontecido na presença das crianças. A mãe não se conforma com a entrega da tutela ao “pai agressor” quando, diz ela, tem todas as condições para assegurar a custódia. O ex-companheiro foi condenado a dois anos e meio de prisão, convertidos em pena suspensa.

A custódia foi entregue ao pai no passado dia 7 de junho e a decisão dura até 7 de dezembro, visto que é uma medida temporária. Mal recebeu a notificação da decisão do tribunal, Ana Maximiano decidiu entrar em greve de fome e já vai no 17º dia.