Dezasseis anos depois de começar a cumprir uma pena de prisão perpétua, Adnan Syed vai voltar a ser julgado no caso do assassinato da sua ex-namorada, a adolescente de 17 anos Hae Min Lee, depois de um dia normal de escola em Baltimore, nos Estados Unidos. O caso só ganhou atenção mundial por ter sido o tema da primeira série do podcast “Serial”, um sucesso mundial que conseguiu 68 milhões de downloads da série com 12 episódios.

A 13 de janeiro de 1999, Hae Min Lee, de apenas 17 anos, ficou de ir buscar o seu primo à escola. Quando não apareceu, começaram as buscas. Durante quase um mês nada se soube de Hae, nascida na Coreia do Sul e emigrada nos EUA com a sua mãe e irmão. A 9 de fevereiro, as autoridades encontraram o seu corpo no Leakin Park, um parque de má fama em Baltimore, perto de onde vivia.

Como em muitos casos, as autoridades acharam que se tratava de um crime passional cometido por um ex-namorado ciumento. Adnan Syed, um jovem de origem paquistanesa com quem Hae havia namorado, passou de testemunha a suspeito e rapidamente foi a julgamento. Acabou por ser condenado a uma pena de prisão perpétua, mais 30 anos, algo comum no sistema judicial norte-americano, mas pouco comum fora dele.

Inicialmente o caso gerou algum interesse, mas apenas local. Dois jovens, um crime horrendo. A adolescente foi estrangulada. O jovem negava tudo. Mas, caso encerrado, Adnan foi para a prisão, onde manteve a inocência, mas nunca conseguiu que a justiça o voltasse a ouvir.

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Entra em cena o “Serial”. Uma jornalista de um dos programas de rádio com maior sucesso no mundo dos podcasts (o “This American Life”) propõe-se a criar um podcast todo ele em torno de um único tema. Doze episódios a explorar apenas um caso. Depois de alguma investigação, Sarah Koenig recebeu uma carta a alertá-la para o caso e decidiu que a séria seria dedicada ao caso de Adnan Syed e ao assassinato de Hae Min Lee.

Sarah Koenig, uma jornalista que chegou a cobrir a área de crime, passa então os doze episódios de Serial a explorar as alegadas falhas no processo para as quais havia sido alertada. Testemunhas fundamentais que nunca chegaram a falar em Tribunal, inconsistências no tempo e nas provas, o trabalho da advogada que um ano depois do caso acabou expulsa da ordem e deixou de poder exercer… A lista é longa e durante a série, a jornalista e a sua equipa tentam reconstruir o dia do crime, as falhas da polícia e advogados, falando com testemunhas e muitas vezes até com o próprio Adnan, que agora tem 35 anos.

No final da série ficaram no ar ainda mais dúvidas sobre a forma como o caso foi investigado pelas autoridades. Agora, a justiça norte-americana decidiu que o caso tem de voltar a ser julgado, por considerar que a advogada de Adnan, Cristina Gutierrez, não defendeu o seu cliente de forma apropriada ao não investigar um possível álibi crucial.

O juiz não deu seguimento à acusação de que o Ministério Público escondeu provas que podiam mudar o sentido do julgamento, nem à acusação de que a advogada de defesa falhou ao não contactar Asia McClain, uma testemunha que podia em teoria ilibar Adnan. Mas considerou que a advogada deveria ter questionado o especialista da acusação sobre a fiabilidade dos dados da torre de telecomunicações que colocou Adnan perto do local onde o corpo de Hae foi encontrado.

O advogado de Adnan Syed comentou a decisão do juiz, dizendo que isto significa que a condenação foi completamente anulada e garante que a defesa está preparada para lutar contra as tentativas, que considera que serão certas, do Ministério Público de Baltimore de tentar anular esta decisão do tribunal.