Há muito que se apregoa que o vinho faz bem à alma e há até uns quantos estudos que estendem os benefícios da bebida à saúde do ser humano. No caso de João Afonso, ex-primeiro bailarino da companhia Ballet Gulbenkian, no ido ano de 1978, o vinho era um remédio contra as dores físicas que todos os dias trazia para casa, depois de um treino de seis horas digno de “um atleta de alta competição”. A paixão pelo vinho começou precisamente quando João Afonso dava os primeiros passos no universo da dança e, atualmente, é tema de conversa nos artigos e livros que escreve — o mais recente acabou de chegar ao mercado e promete ser uma salvação na hora de escolher um bom vinho.

Com o título 101 Grandes Vinhos Por Menos de 10 euros, a obra não cabe no bolso mas nem por isso deixa de ser uma cábula para quem, não raras vezes, se depara com infindáveis prateleiras cheias de vinho nos corredores do hipermercado local. Apesar de o vinho português estar cada vez mais acessível, bom e internacional, nem sempre é tarefa fácil escolher uma garrafa e fazer boa figura em jantares de amigos. Nada que João Afonso não consiga resolver em cerca de 300 páginas, onde estão propostas de 101 empresas vinícolas diferentes — sobretudo vinhos de grande rotação — e de todas as regiões, desde o Alentejo das massas aos brancos atípicos nascidos nas ilhas dos Açores.

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O livro foi editado pela Esfera dos Livros e custa 14,15€

Mas porquê confiar na palavra (ou boca e nariz) de um bailarino de profissão? É que João Afonso tanto dança — e cursou Educação Física, embora sem nunca ter calçado os ténis da profissão — como percebe de vinhos. A confirmá-lo estão os mais de 20 anos de escrita ao serviço da Revista de Vinhos, além da autoria dos livros Curso de Vinhos para Verdadeiros Apreciadores e Entender de Vinho.

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Nascido numa família de médicos, o crítico e escritor desenvolveu o gosto pelo vinho por acaso. Certo que o pai tinha por hábito servir-lhe um copo de tinto às refeições para acompanhar a comida que a mãe fazia, mas foi um “rosé muito simpático” ao final do dia, quando já estava casado e já dançava profissionalmente, que o despertou para o universo vinícola. “Ser bailarino é dor física e, naquela altura, bebia um copo de vinho e as dores desapareciam. Ficava relaxado e dormia bem”, recorda ao Observador o homem que em 1977 entrava para o prestigiado Ballet Gulbenkian. Aos 36 anos, no auge da carreira, reformou-se para se dedicar por inteiro ao néctar de Baco.

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João Afonso não se limita a provar, criticar e a escrever sobre vinhos; ele próprio é produtor. É a partir de vinhas em plena Serra de São Mamede que produz os vinhos Equinócio, Solstício e Respiro (o Luar das Cabeças do Reguengo ainda está por chegar). São mais de três mil pés de vinha centenária e outros tantos milheiros de pés de vinha nova plantada a partir de 2010 numa propriedade de turismo rural adquirida um ano antes (há oito quartos e três apartamentos à disposição dos hóspedes).

“Estamos a recuperar a vinha tal e qual os antigos a plantaram no século passado. As nossas vinhas não estão armadas, têm cerca de 30 a 40 castas e há spots com mistura de castas brancas e tintas”, explica. E o que dizer do vinho que produz? É “bestial” e “cheira a vinho e não a uvas”. Só não está entre os 101 que selecionou.