O ator e encenador Luís Miguel Cintra é homenageado hoje, no São Luiz Teatro Municipal, ao Chiado, em Lisboa, com a atribuição do seu nome à sala principal desta casa de espetáculos.

A sessão é seguida da conversa “A construção de um espetáculo”, entre Luís Miguel Cintra e a figurinista e cenógrafa Cristina Guerra, do Teatro da Cornucópia, a professora Maria João Brilhante e José Capela, da companhia mala voadora.

A homenagem tem início às 19:30, conta com a presença do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, do ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes, e coincide com a apresentação, naquele teatro, da mais recente encenação de Luís Miguel Cintra, “Música”, do dramaturgo alemão Frank Wedekind, peça que se mantém em cartaz, até ao próximo domingo.

Luís Miguel Cintra nasceu em Madrid, em 1949, iniciou a sua carreira de ator e encenador de teatro no Grupo de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, frequentou a Bristol Old Vic Theatre School, no Reino Unido, e, em 1973, fundou, com o ator, encenador, escritor e cineasta Jorge Silva Melo, o Teatro da Cornucópia que desde então dirige – agora em parceria com Cristina Reis -, e onde tem encenado e representado textos de todo o reportório teatral e algumas estreias absolutas, como adianta o comunicado do Teatro São Luiz.

A ópera, o cinema e a tradução também fazem parte do “riquíssimo trabalho com que [Luís Miguel Cintra] tem contribuído para a cultura da cidade e do país”, como afirma a Câmara de Lisboa, mentora da homenagem.

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No São Luiz Teatro Municipal, Luís Miguel Cintra encenou, entre outras peças, “A tragédia de Júlio César” (2006), a partir de Shakespeare, com as suas “lutas pelo poder, a vida privada e a responsabilidade pública, de paz e de guerra, de política e de moral”.

Em “A Cidade” (2010), a partir de Aristófanes, que também apresentou no teatro municipal, olha, “com humor, a sociedade, os seus desejos e ímpetos”, confrontando o público “com um paralelismo de 3000 anos”.

Em 2014, para culminar o 40.º aniversário da Cornucópia, Luís Miguel Cintra levou “Íon”, de Eurípides, ao São Luiz, um espetáculo em que abordou a atualidade e o “sentimento de crise política do nosso tempo”.

“Música”, de Frank Wedekind, que o próprio autor definiu como “um estudo de costumes em quatro quadros”, data de 1906, e constitui um dos textos “mais violentos”, em termos de crítica social, “apesar da sua aparência cómica, ou pelo menos caricatural”, como se lê na apresentação, assinada por Luís Miguel Cintra.

Wedekind, “escritor, ator, cantor, anarquista, alcoólico, artista de cabaret” – como Cintra o define -, autor de “Lulu” e de “O Despertar da Primavera”, situa a ação em Munique e escreve-a a partir do caso verdadeiro, de um professor de música que engravidou a sua aluna e a levou a abortar.

“O tema é tratado da forma mais cruel. Por isso a peça foi sempre muito perseguida pela censura”, escreve Luís Miguel Cintra. Fala da “lei feita por homens, que prendem moral e fisicamente a mulher e para quem as entranhas da mulher são campo aberto para o espírito de iniciativa do sexo masculino”, prossegue o encenador.

“Como agora sabemos, o problema não é só um problema jurídico”, acrescenta. Por isso, a encenação é, sobretudo, “sobre a reinante e assassina hipocrisia”.

Traduzida e encenada por Luís Miguel Cintra, “Música” tem cenário e figurinos de Cristina Reis, e interpretação de Dinis Gomes (professor), Sofia Marques (sua mulher), Rita Cabaço (Klara, estudante de música), Duarte Guimarães (diretor da prisão), Luísa Cruz (vigilante).