Historicamente, garante a Wikipédia, a cerveja já era conhecida pelos antigos sumérios, egípcios, mesopotâmios e (claro está) pelos ibéricos, remontando, pelo menos, a 6000 a.C. Na altura não existia futebol, mas a verdade é que com o empenho certo até um jogo de tabuleiro serve para formar claques apaixonadas. Além disso, o comentador de futebol ficcionado que mete os reais a um canto deixava-se sempre acompanhar por um copo de vinho: o Estebes do Herman José não dispensava a sua pomada.

Se este singelo pedaço de prosa é a apologia a “se vir um jogo, por favor beba”? Não vamos tão longe, mas não é à toa que em dias de partidas se tem uma Grande Muralha Da Mini feita de grades de cerveja à porta de qualquer supermercado. Por isso, esqueçamos por momentos o típico hooligan embriagado, que esse só bebe para ver se dói menos o embate frontal com os nós dos dedos do hooligan adversário. O mote aqui são as imperais geladas com os amigos, a sangria que até pode ser de pacote ou até aquele licor caseiro que o sogro guarda para momentos especiais e que sabe a puro álcool desinfetante. Não é todos os dias que Portugal chega à final de um campeonato europeu e por isso há que celebrar.

Mas para dar mais emoção e mais propósito (sim, beber com um propósito é outra coisa) ao ato do emborcanço etílico, sugerimos um jogo. Nos Estados Unidos são muito populares os drinking games associados a eventos vistos através da televisão por muita gente, seja um acontecimento desportivo, os Óscares ou o episódio de uma série tão má que até é boa. A ideia é predeterminar uma série de situações possíveis e beber sempre que estas ocorram – e aqui também valem os longos diretos de pré-jogo. Estas são as nossas sugestões, para lá do óbvio “beber para festejar a vitória” ou “beber para esquecer a derrota”:

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Dar um golo na bebida

  • De cada vez que filmam o autocarro onde se desloca a seleção a uns estonteantes 80 km por hora.
  • Alguém menciona a necessidade de vingança do Euro 84.
  • Alguém explica novamente que aquilo do Abel Xavier em 2000 foi “bola na mão” e não “mão na bola”.
  • Alguém realça que aquela ideia de ter o “Tudo O Que Eu Te Dou” como música de apoio à seleção foi mesmo estúpida.
  • É apresentado um dado estatístico rebuscado e absolutamente irrelevante para o resultado final. Exemplo: “esta é a 15ª vez que Portugal joga a um domingo em que estão mais de 21 graus”.
  • Há uma boca/piada/comentário ao facto de Renato Sanches ter na verdade 65 anos e desconto sénior na CP.
  • Um adepto critica os franceses que chamaram “nojento” ao futebol português, alheado do facto de que o comentário foi feito numa crónica de opinião de uma “Dica da Semana” lá do sítio.
  • Cristiano Ronaldo marca um livre do meio campo direitinho para a bancada.
  • Renato Sanches e o Adrien Silva dão-se lindamente, metendo Bruno Carvalho a espumar da boca.
  • Alguém compara as seleções Portugal 2016 e Grécia 2004. Beber um gole extra se a conversa descambar para comparações sobre a troika.

Beber de penalti o resto da bebida

  • De cada vez que passa o tenebroso hino oficial do Euro 2016, da autoria desse Mozart dos tempos modernos que é David Guetta.
  • Entrevistam um luso-descendente que torce por Portugal mas não fala uma palavra de português.
  • Nuno Luz causa vergonha alheia de fazer ranger os dentes.
  • Filmam alguém da família Aveiro (reencher o copo e beber de novo se for a Dona Dolores).
  • O árbitro toma alguma decisão que nos penaliza e desata tudo a mandar bocas sobre o Platini.
  • Passa um anúncio que força uma relação entre futebol e o produto (“este iogurte vence a sua obstipação intestinal como a nossa seleção vence tudo e todos”).
  • Conseguem entrevistar um adepto português que não está vestido com as cores da bandeira.
  • Uma mulher grávida promete chamar Cristiano ao filho se ganharmos.
  • Nani marca logo da primeira vez que toca na bola.
  • Pepe faz um corte que nos deixa na dúvida se ele não é um cyborg do futuro.

Susana Romana é guionista e professora de escrita criativa