“Moralmente inaceitável”, é assim que François Hollande reage à decisão do ex-presidente da Comissão Europeia de ir trabalhar para a Goldman Sachs. E explica as razões para a crítica forte a Durão Barroso, afirmando que foi este banco de investimento que aconselhou a Grécia, durante a crise, a “maquilhar as contas” apresentadas junto da União Europeia.

O presidente francês lembra, numa entrevista televisiva no âmbito das comemorações do dia nacional de França, que Barroso foi “10 anos presidente da Comissão Europeia, no momento em que houve a crise provocada pelo subprime, do qual a Goldman Sachs foi uma das instituições emblemáticas”, além de acrescentar o papel que o banco norte-americano teve, junto da Grécia, contra a União Europeia. Isto para logo depois dizer que legalmente a posição de Barroso “é possível, mas moralmente é inaceitável”, citado pelo Le Figaro.

Barroso foi presidente da Comissão Europeia durante dez anos, no momento em que houve a crise provocada pelo subprime, do qual a Goldman Sachs foi uma das instituições emblemáticas. Goldman Sachs que surgiu no caso grego, já que aconselhou os gregos a maquilharem os números que a Grécia entregues à União Europeia”

A Goldman Sachs é um dos maiores banco de investimento do mundo e anunciou a 8 de julho a contratação de Durão Barroso como presidente não-executivo e consultor da instituição e consultor. A sede do banco é nos Estados Unidos, mas Durão ficará na subsidiária Goldman Sachs International (GSI), que está instalada em Londres. O ex-presidente da CE (e antigo primeiro-ministro português) poderá ficar associado a aconselhamento sobretudo para matérias relacionadas com o Brexit.

A decisão incendiou o debate público em Portugal, mas foi muito além, com críticas fortes a surgirem também de algumas das figuras de destaque na União Europeia. Ainda ontem, o comissário europeu para os Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, disse que Barroso devia ter feito “uma reflexão política, ética e pessoal” e sublinhou que ao passar de um cargo público para o setor privado, um político deve “pensar na imagem que projeta”.

No mesmo dia, em França, o secretário de Estado dos Assuntos Europeus fez uma intervenção no Parlamento onde disse que “a contratação do antigo presidente da Comissão Europeia, Sr. Barroso, pelo banco de investimento Goldman Sachs é particularmente escandalosa tendo em conta o papel desempenhado por esse banco na crise financeira de 2008. Este caso levanta um problema de regras sobre o conflito de interesse que se deve aplicar aos antigos membros da CE e nomeadamente do seu presidente”, disse ainda Harlem Desir. O Governo (socialista) francês pediu mesmo a Barroso que “abandone o cargo”.

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